quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Terceiro Turno! Custe o que custar

por OSVALDO RODRIGUES JUNIOR



Desde a reeleição da presidente Dilma Rousseff, no último dia 26 de outubro, com a menor diferença de votos desde a redemocratização do Brasil, 3%, o país assiste às tentativas de convocação de um terceiro turno, seja ele disputado por vias legais ou por vias autoritárias.

Reinaldo Azevedo, colunista da Revista Veja, antecipando a derrota nas urnas, já evocava o impeachment da presidente dois dias antes do segundo turno. Tal pedido baseava-se na “denúncia” panfletária divulgada na edição 2397 da Revista Veja, de que, segundo o doleiro Alberto Youssef, Dilma e Lula sabiam do esquema de corrupção na Petrobras. Detalhe, a edição deveria ser lançada no domingo, 26 de outubro, mas estrategicamente foi antecipada para o dia 24 de outubro. Tal “denúncia”, de caráter extremamente eleitoreira, conforme decisão do Tribunal Superior Eleitoral, é seguida pela própria afirmação de que o doleiro teria supostamente dito, mas não teria apresentado nenhuma prova do fato. Desta forma, Azevedo baseou-se no denuncismo assumindo a paternidade do movimento “impeachment de Dilma” ou “nós somos mimados, não sabemos perder e queremos um terceiro turno, custe o que custar”. 



Na última quinta-feira, 30 de outubro, o Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB – protocolou no Tribunal Superior Eleitoral – TSE – um pedido de auditoria dos dados eleitorais, com o discurso de defesa da “lisura” no processo eleitoral. O partido sugeriu a criação de uma comissão com representantes do tribunal e dos partidos. A justificativa para o pedido foi de “que a confiabilidade da apuração e a infalibilidade da urna eletrônica têm sido questionadas pela população nas redes sociais”. Dentre as denúncias, está a já desmentida de um mesário, que teria recebido a urna com 400 votos contabilizados para Dilma Rousseff. Segundo o advogado da campanha, Flávio Henrique Pereira,  a auditoria pretende "restabelecer" a credibilidade da apuração dos votos.

O TSE decidiu por unanimidade liberar os dados requisitados pelo PSDB para a auditoria, mas descartou a criação de uma comissão, afirmando que o partido não tem prerrogativa legal para representar outros. Na decisão, o presidente José Dias Toffoli ainda afirmou que desde abril os partidos poderiam auditar os sistemas de votação, mas não o fizeram. Desta forma, o PSDB, derrotado nas urnas, tenta um último remedo legal.

Do impeachment sem provas à “recontagem” dos votos, tudo normal em uma sociedade democrática de direito, em que a liberdade de expressão, mesmo que em determinados momentos confundida com liberdade de ódio, está preservada. Porém, é incontestável o fato de que tais medidas colocam em xeque a “credibilidade” da democracia construindo um clima de “ódio a Democracia” que favorece a ascensão dos discursos fascistas. 

Foi justamente este discurso que se viu, no último sábado, 1º de novembro, quando foi realizada uma passeata pelo impeachment de Dilma Rousseff, que reuniu cerca de 2.500 pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo. O movimento convocado pelas redes sociais tinha como objetivo "demonstrar a insatisfação com o resultados das urnas". Entretanto, o que se viu não foi a insatisfação com o resultado das urnas, mas sim a insatisfação com o estado democrático de direito.

Aos gritos de “Fora Cuba”, “Fora Venezuela” e “Fora PT”, os manifestantes reviveram o clima da Guerra Fria, que já acabou há mais de 20 anos, e denunciaram a implantação da “Ditadura Comunista” que está em curso no Brasil. Sob a batuta do músico Lobão e do Deputado Federal Eduardo Bolsonaro, do Partido Social Cristão – PSC –, que ostentava uma arma na cintura, e em seu discurso afirmou que “Ele [seu pai – Jair Bolsonaro] teria fuzilado Dilma Rousseff se fosse candidato esse ano. Ele tem vontade de ser candidato mesmo que tenha de mudar de partido”. E emendou: “Dizia na minha campanha: voto no Marcola, mas não em Dilma. Pelo menos ele tem palavra”, os manifestantes deram vivas à Polícia Militar de São Paulo, uma das mais letais do mundo e responsável por uma verdadeira “limpeza étnica” no Estado; agrediram fisicamente os opositores que por ali passavam; e finalmente deixaram o seu recado: “intervenção militar”. Mesmo que pouco representados, o recado foi dado, se as vias legais não forem possíveis, a Ditadura é o caminho. 


Em meio às faixas com os dizeres “intervenção militar”, “o povo apoia as forças armadas”, uma faixa com os dizeres “imprensa livre”. Isso nos leva a crer que coabitavam o mesmo espaço pessoas favoráveis à intervenção militar e à imprensa livre, uma incongruência histórica absurda. O “analfabetismo histórico”, já demonstrado na forma de “revival” da Guerra Fria, e o denuncismo de um golpe comunista em curso no Brasil, chegaram a limites estratosféricos. Para eles, apenas uma dose de historiografia. Em 1968, sob o comando do general Castelo Branco, a Lei de Imprensa de 1967 instituiu a censura aos meios de comunicação no Brasil. Dentro deste contexto, a Ditadura Civil-Militar processou, condenou, exilou, prendeu e torturou 22 jornalistas, segundo números oficiais bastante contestáveis. Quando isso não foi suficiente, os militares assassinaram jornalistas, como no conhecido caso de Vladimir Herzog, morto nas dependências do 2ª Exército, em São Paulo, em 25 de outubro de 1975. Na versão dos militares, Herzog se suicidou por enforcamento, contudo, no ano passado, a justiça confirmou o assassinato do jornalista da TV Cultura. Se fôssemos ampliar os exemplos históricos para as outras ditaduras latino-americanas ou mesmo para os regimes totalitários europeus, vários seriam os exemplos de que imprensa livre e regime militar caminham em lados opostos, ou melhor, são como água e óleo, não se misturam. 


Aécio Neves repudiou as manifestações pelo impeachment e os pedidos por “intervenção militar” afirmando “não sou golpista, sou um filho da democracia”. O tucano apenas esqueceu de dizer que, segundo o jornal Correio Brasiliense, a manifestação realizada em Brasília, no mesmo dia 1º de novembro, contou com um carro de som cedido pelo PSDB. 

Os liberais democratas Rodrigo Constantino e Reinaldo Azevedo saíram em defesa dos manifestantes, que, segundo eles, exercendo o direito democrático de livre expressão, foram às ruas pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Constantino aproveitou mais uma vez para criticar o jornalismo de esquerda, que segundo ele deu ênfase ao solitário manifestante que pedia a intervenção militar, desqualificando o ato. Azevedo corroborou com o colega de Revista Veja a concepção de que a mídia esquerdista utilizou-se de casos isolados para desqualificar um ato democrático.

Em conclusão, ao colocar em xeque a Democracia, a imprensa e os partidos de oposição abrem espaço para a ascensão do discurso fascista que tomou conta da Avenida Paulista no último sábado. Discurso de ódio de quem quer um terceiro turno, custe o que custar. 



Abraços,
Osvaldo. 

Um comentário:

  1. Vocês não tem vergonha de tanta desonestidade intelectual? Falam de ódio e são os que mais fomentam o ódio, falam de preconceito e são os mais preconceituosos. Basta a pessoa ser anti-PT e ele se torna o pior de todos. Aqui e em tudo que a esquerda faz a máxima de Lenin é levada ao pé da letra "Xingue-os do que você é, acuse os do que você faz" A sorte é que quem lê esse blog, já é contaminado com a doença chamada ESQUERDOPATIA.

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