sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Retratação

Considerações sobre um retweet, sua repercussão e uma campanha de ódio

por MURILO CLETO

No decorrer desta semana, meu nome esteve envolvido numa série de escândalos e acusações das mais diversas, motivadas por um tweet. Na verdade, por um retweet. Segunda-feira, um usuário da rede postou uma piada sobre acadêmicos de Direito que têm o costume de frequentar as aulas de terno. A postagem pode ser conferida aqui: 


De passagem pela timeline, reproduzi para os meus seguidores. No dia seguinte, a manchete dum blog local foi "MURILO CLETO - DIZ QUE EVANGÉLICO É ANIMAL". Não contente com a chamada desonesta, a mesma postagem "informativa" me classifica como, na ordem: 1) desprezível; 2) covarde; 3) meliante; 4) arrogante; 5) inescrupuloso; e 6) debochado. A postagem ainda sugere a minha prisão por até 1 ano. Com a discreta repercussão do caso, o autor passou a marcar todas as autoridades e pessoas conhecidas do município para que alguém lesse seu conteúdo, até que alguém viu e decidiu fazer um vídeo a respeito.

Trata-se de um "jornalista" com muitas dificuldades de grafia, mas que faz muito bom uso da retórica pra atacar a administração pública há tempos - desde que dela foi demitido. Na publicação, fundo musical e edições do movie maker pra dizer que ofendi evangélicos, testemunhas de Jeová e estudantes de Direito. Para anunciar meu nome, até então guardado em suspense nos primeiros segundos de vídeo, surgiu até a 5ª Sinfonia de Beethoven, como num rompante sensacionalista. 

Quem não me conhece, não conhece o que motivou as "denúncias" e tampouco a dinâmica do Twitter - que é bem diferente da literalidade predominante no Facebook -, embarcou fácil.

A partir daí, com o compartilhamento do vídeo em diversos grupos no Facebook, a repercussão tornou-se notável. O primeiro comentário diz o seguinte: "Esse murilo tem que se fuder mesmo ... pensa que o dono da razao esse petistinha ... VAI LAMBER O SACO DO LULA" (sic). Outros passaram a questionar a educação que recebi em casa e,  partir daí, veio uma ofensa atrás da outra. Mais uma vez, meu ateísmo foi utilizado como gasolina pra inflamar as incompreensões sobre o que ele significa e estimular uma enxurrada de informações falsas a meu respeito. 

Teve de tudo. O mesmo autor da primeira postagem, cuja ficha criminal prefiro não escancarar aqui, abriu outra pra dizer eu pertencia à Igreja Adventista e a abandonei pra ensaiar aos sábados com a minha BANDA DE ROCK - assim, em caixa alta mesmo. Esse, no entanto, é apenas um episódio - dos mais cômicos, diga-se de passagem - de uma campanha muito mais ampla, que é a de me desqualificar não como gestor público municipal, mas como profissional da Educação e cidadão.

Por que a minha vida profissional fora da Prefeitura e mesmo minha vida pessoal? O motivo é simples: as tentativas de desqualificação no executivo municipal não deram certo. Ano passado, fui acusado pelo mesmo blogueiro de privilegiar um amigo - porque ensaio no estúdio dele com a minha BANDA DE ROCK (sic) - numa cotação de preços para a Festa de São Pedro. A denúncia foi encaminhada ao Ministério Público e um escândalo foi armado em rede social. Pouco tempo depois, a promotoria respondeu dizendo que as acusações eram meramente especulativas e estavam desacompanhadas de quaisquer evidências que justificassem a abertura de inquérito. Mas isso nunca apareceu em blog algum e continuei a ser classificado por ele como "pilantra". 

Antes ainda, no início da gestão, o mesmo autor de todas essas denúncias encaminhou à justiça um pedido de demissão e ressarcimento aos cofres públicos dos salários de diversos comissionados da administração, inclusive eu, citado, por algum motivo, como "Murilo 'Augusto' Cleto". O processo, de nº 3000513-02.2013.8.26.0279, foi julgado completamente improcedente, sendo indeferida a petição inicial. Mas nada de retratação pública também. 

No final do ano passado, uma imagem minha e de minha mulher, em viagem à Argentina, foi utilizada para dizer que eu estava usando dinheiro público para passear "no México" e abandonar o cargo. Evidentemente tudo foi pago com o nosso bolso, mas o acusador também nunca quis saber disso. Os 4 dias úteis passados lá foram devidamente descontados da minha folha de pagamento, mas isso também nunca apareceu em rede social alguma.  

Como não houve adesão popular nesta série de acusações, o autor foi pra outros meios. Agora, o objetivo é atingir minha vida particular e minha atuação profissional acadêmica e pedagógica. Dentre os boatos lançados, figuram alguns particularmente impactantes: habito de agressão à mulher; descumprimento de obrigações paternas; e utilização da sala de aula para o exercício exclusivo de propaganda política. Pra mim, nada de surpreendente. Até hoje há quem diga que mantenho o costume de pisotear bíblias em sala de aula.

Graças ao retweet de segunda-feira, fui acusado de desrespeito às etnias - sim, etnias - e de racismo - isso mesmo. Não acho que seja a ocasião de conceituar racismo e etnia pra quem desconhece seus significados, mas pode ser interessante comparar o teor destas acusações com a minha atuação pessoal e profissional. Já escrevi e encabecei conferências sobre racismomachismoDireitos Humanos, e muito me surpreende que tenha sido denunciado desta forma por alguém que, diante das consternações próprias da derrota nas urnas no último 26 de outubro, publicou postagens indicando "luto" por parte do Sudeste do Brasil e usou da retórica falaciosa e preconceituosa de que nordestinos votam no PT e depois vão embora para melhorar de vida em São Paulo, que é governado pelo PSDB. Nestes casos, no entanto, não houve quem protestasse.

Muito me inquieta esta seletividade da indignação, que, sabemos, estende-se a diversas áreas da vida pública. Mas a que chama atenção aqui é a seguinte: se o problema está no conteúdo do que foi dito, por que revolta não se direcionou ao autor da postagem e aos mais de 30 que reproduziram? Não, o problema é comigo. A manchete anuncia "MURILO CLETO - DIZ QUE EVANGÉLICO É ANIMAL". Retirada do contexto, é evidente que a chamada pode - e deve - causar indignação. Ao contrário do que se diz no vídeo, não foi aberta uma enquete, mas postada uma piada, inclusive razoavelmente comum nos corredores do curso de Direito Brasil afora. 

Esta pode ter sido uma boa tentativa de os dois denunciantes entrarem para a turma da jurisprudência. Um deles sequer frequentou o curso de Direito, apesar da atuação na área - que, inclusive, já lhe rendeu prisão - e o outro, apesar de bacharel, ainda não conseguiu aprovação no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil - algo compreensível pra materialidade da avaliação.

Ainda assim, cada um lê, seja o texto que for, da forma que quiser e puder, direcionado ou não pela manchete anunciadora. A priori, não considerei a postagem ofensiva, afinal costumo entender o termo "animal" como substantivo, e não adjetivo, inclusive porque não considero evangélicos, testemunhas de Jeová ou estudantes de Direito, de forma alguma, animais irracionais - e tampouco isso é dito na publicação. No entanto, concluo que não tenho o direito de pensar de antemão por todos, e me desculpo aqui com aqueles que sentiram-se ofendidos com a reprodução do tweet. A estes, o meu mais sincero pedido de perdão. 

De qualquer forma, esta não foi a primeira, tampouco será a última investida contra mim. Há quem insista que não sossega enquanto eu não for demitido e estiver "na merda". O autor da manchete blogueira, inclusive, já comemora que, pra mim, a casa esteja caindo. Chegou a dizer que vou precisar vender todos os meus equipamentos pra devolver o dinheiro que, segundo ele, recebo irregularmente na Prefeitura. Agora, passa a me chamar de "verme", "merda", "babaca", canalha", dentre outras classificações habituais nos últimos meses. 

Infelizmente, nas suas redes sociais também não aparece a condenação no processo 3001941-19.2013.8.26.0279, aberto e vencido por Carlos Felipe Gonçalves Demétrio, comumente chamado de "verme" e "vagabundo" pelo mesmo cidadão que hoje me ofende no mesmo patamar léxico. Na sentença, o juiz determina o pagamento de R$ 6.500,00 atualizados de indenização e ratifica a liminar que obriga o réu a não se referir ao autor do processo com palavras ofensivas e a apagar tudo o que já foi postado desta maneira sobre o impetrante, sob pena de multa de R$ 50 por dia. 

Qual a intenção destas últimas ações, portanto? Além de destruir minha carreira, dissuadir mais pessoas pra que, naturalmente, elas passem a me ofender, e não apenas ele. Simples assim. 

Lamento muito pelos alunos, colegas de trabalho, amigos e familiares que são obrigados e me ver diariamente na ponta de língua de pessoas desta estirpe e estampando capa destes tipos de veículo de comunicação. Mas este é um dos preços que preciso pagar por uma opção. E não é nada fácil escolher o lado certo.

Alguns fatores contribuíram, é verdade, pra que essa campanha do ódio contra mim tenha se aflorado nos últimos meses: sem apelar pra ofensas ou manchetes escandalosas e desonestas, o blog Desafinado tem atingido a frequência de 6.000 acessos por mês, algo razoável pra um endereço eletrônico que se propõe a debater política num município de 50.000 habitantes. Desde junho, o site tem sido atualizado diariamente por diversos colaboradores, todos eles com muita informação pra acrescentar no debate político - e que já estão sendo atacados de todas as formas possíveis. Além disso, o que era virtual se materializou com a Revista Desafinado, que circula pelas principais bancas da cidade e mostrou que é possível discutir política, história, sociedade e cultura sem partir pra ignorância. Pra muitos, isso é um problema. Me empurrando contra os meus principais alicerces fora da gestão pública, o objetivo final é que eu recue, abrindo caminho pra que somente a verdade deles prevaleça e a lição fique pros demais.  

Encerro com a mensagem de um amigo, que descreveu com exatidão esta mais nova empreitada dos últimos dias contra mim: "[Esta] agressividade, desonesta, hipócrita e mentirosa, infelizmente apenas reproduz um comportamento que tem sido recorrente em boa parte da nossa direita, acostumada a recorrer à razão da força porque, afinal, é incapaz de usar a força da razão".

Abraços, 
Murilo

2 comentários:

  1. Enquanto o mané precisa encher a boca (e o texto) com adjetivos para te difamar, inventar baboseira, e marcar as pessoas para que alguém lhe dê um pouco de atenção, temos aqui algo que sempre sempre quis ver acontecer na nossa cidade: debate político sério, com embasamento, e aberto a todos que queiram/possam participar e agregar. E isso tá acontecendo por que nós estamos interessados no valor que isso tem. E acho que isso causa inveja nas inimigas, que não conseguem ter tanta repercussão sem apelar, rs. E isso sem precisar falar do seu trabalho na coordenadoria e em sala de aula, né.

    Brincadeiras à parte, nem soube dessas calunias e tal, nem vi tais publicações, de tão irrelevantes. Mas lendo isso aqui a gente sabe exatamente de quem se trata. E não sei da onde tira coragem para acusar em falso com tanta sujeira na mão. Baixaria com marca registrada e slogan, né, haha.

    Só posso torcer pra que isso não afete nem a você, nem os seus próximos, porque a gente continua aqui, acessando e lendo o conteúdo de vocês com muita satisfação.

    Quem tiver discernimento vai perceber que isso é asneira de gente que quer se dar bem a todo custo, mesmo estando errado. Quem não tiver... bom, acho que esses não precisam ser levados em conta no debate.

    Força aí que continuamos prestigiando (haha) daqui!

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  2. Gente, desde quando deixamos de ser animais? Viramos alguma evolução ainda não descoberta pela ciência? Somos todos animais, até que me provem ao contrário, por isso pertencemos ao reino animalia ou estou enganado e minha vida de estudos não passou de uma mentira? Acho que preciso reler o livro que você pisa.

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