Temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades
(Boaventura de Sousa Santos)
por MURILO CLETO
Todo 20 de novembro é a mesma coisa. Primeiro, todo mundo quer saber se vai ter feriado ou não. Segundo, quando o feriado é confirmado, alguma instituição comercial tenta impugná-lo com uma medida judicial. Terceiro, sua tia compartilha freneticamente uma frase sobre "Consciência Humana" no Facebook.
Quer dizer, nem sempre foi assim. Nem sempre precisou ser assim. Antes da instituição do 20 de novembro como feriado nacional, não era. Como argumentam patrões de boa parte do país, o Brasil tem feriado demais. O único, no entanto, que permanece questionável, é o da Consciência Negra, que celebra a memória de Zumbi dos Palmares, morto e esquartejado há 319 anos nesta mesma data.
Zumbi não morreu porque simplesmente morreu. Morreu porque era negro e desafiou a lógica que por séculos confinou negros a um espaço muito bem delimitado no Ocidente Moderno. Mais de 1 século depois da abolição da escravatura, 41.127 negros são mortos por ano, de acordo com o último levantamento divulgado pelo Mapa da Violência.
Efeito colateral da criminalidade que assola todo o país? Também, mas entre 2002 e 2012, enquanto o número de homicídios de brancos diminuiu de 19.846 para 14.928, os assassinatos de negros aumentaram quase 40%. A chance de um negro ser assassinado no país é 3,7 vezes maior do que a de um branco. O homicídio é a principal causa não natural de morte de negros em São Paulo, enquanto brancos morrem, majoritariamente, de acidentes de trânsito.
De acordo com o IBGE, o número de brasileiros negros sem nenhuma instrução formal ou com o Ensino Fundamental completo é 14% maior que o de brancos. Nos ensinos médio e superior, a desigualdade continua. Segundo o Ipea, 62% das 571 mil crianças entre 7 e 14 anos que estão fora das escolas são negras. Nos 3 cursos mais concorridos no Vestibular 2013 da USP, onde o sistema de cotas não é adotado, simplesmente nenhum negro tornou-se calouro. Fora dos muros da educação formal não é diferente: a renda dos negros corresponde a 57,4% da dos brancos.
Dependendo da posição que se ocupe nesta conta, é muito fácil desdenhar do Dia da Consciência Negra. Enquanto a consciência continuar sendo tão seletiva quanto ao que significa ser humano na prática, vamos precisar de um dia da consciência negra, outro da homossexual, outro da feminina, outro da indígena. Até lá, "Consciência Humana"... uma ova.
Abraços,
Murilo
Abraços,
Murilo
Consciência Humana é uma piada. Prefiro ser um irascível do que compactuar com os ideais do senso comum.
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