por MARCUS VINÍCIUS DO NASCIMENTO
A minha família materna é formada majoritariamente por negros e quase sempre quando alguém se refere a algum deles o chamam de morenos, mulatos, queimadinhos, entre outros termos. É evidente o receio que as pessoas têm em utilizar a palavra "negro" como se isso fosse algo pejorativo. É melhor se referir a essas pessoas com palavras que as “embranquecem”.
No século XIX, muitos pensadores, valendo-se das ideias evolucionistas de Darwin, conceberam um racismo com uma roupagem “cientifica”, que teve em Hebert Spencer a sua maior expressão. Essas teorias racistas pregavam a superioridade da raça branca a todas as outras que eram consideradas primitivas.
O francês Joseph Arthur de Gobineau, autor do Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas, em sua passagem como diplomata pelo Brasil, via no país uma grande dificuldade em alcançar o desenvolvimento devido à sua mestiçagem, exemplo de “degeneração”.
No Brasil, intelectuais como Nina Rodrigues, Silvio Romero e Euclides da Cunha relacionavam a formação étnica brasileira com seus problemas políticos, econômicos e sociais. A ideia defendida para superação desses problemas era a de “embranquecimento” da população brasileira, que se daria por meio da imigração europeia e de casamentos entre negros e brancos, para que em um curto espaço de tempo a população se tornasse, em sua maioria, branca. Assim, os mestiços não seriam um problema para os brasileiros como para Gobineau, mas sim um estágio do processo de embranquecimento e da ruptura com passado colonial escravagista negro.
O quadro de Modesto Brocos y Gómez intitulado A redenção de Cam (1895) sintetiza bem essa ideia de embranquecimento e chegou até a ser utilizado por João Batista de Lacerda como ilustração de sua tese no Congresso Universal de Raças, realizado em Londres em 1911. As expressões de alegria dos adultos na cena em torno da criança branca estabelecem o ideal da época.
Mais de um século depois, as ideias de inferioridade/superioridade de raças, mesmo sendo refutadas pela ciência, ainda continuam tendo seus seguidores, e são responsáveis por inúmeros casos de violência no mundo inteiro. Já o ideal de branqueamento está presente nos cosméticos, na cirurgia plástica, na moda e no negro que é chamado de “moreno”.
O preconceito racial e o peso do nosso passado escravista ainda são feridas abertas no Brasil.
Viva Zumbi!
Abraços,
Marcus Vinícius do Nascimento.
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