por LUCAS SANTOS
Nós já avançamos nas negociações com os outros países da América, em prol do comércio livre e justo em todo o hemisfério. O futuro de milhões de pobres depende desses resultados. Os países que adotam o comércio livre se desenvolvem mais facilmente que aqueles que adotam o protecionismo.
(George W. Bush, 2005, Brasília)
O processo que será denominado aqui de americanização tem sua gênese no cenário pós-guerra da década de 1940 e consiste basicamente na apropriação de uma gama de aspectos culturais importada dos Estados Unidos da América por grande parte dos conjuntos culturais acidentais, porém, trataremos aqui do caso específico do Brasil, que nas mãos de Vargas foi inundado pelo American Way of Life.
A americanização do ocidente tem seus primórdios com as políticas de expansão de mercado promovidas por duas jogadas do governo estadunidense, sendo a doutrina Truman e o plano Marshal, ambos visando a ascensão dos E.U.A. a potência mundial, em um cenário muito propício.
Ambas as manobras foram, grosso modo, muito bem sucedidas, visto que o mercado consumidor do país cresceu, não apenas internamento, mas em nível global, e várias alianças surgiram possibilitando o enfrentamento direto de seu, então, novo inimigo vermelho: a União Soviética.
Para o governo Vargas a aliança com o novo chanceler global foi vantajosa, visto que com ela veio à possibilidade de gestar um empreendimento estatal, materializado na CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), marca do progresso, dado o pensamento positivista predominante no contexto.
Para a “plebe”, no entanto, o quadro é um pouco complicado. Na questão cultural, temos sim algumas questões a serem pontuadas, visto que os “enlatados americanos” vieram compor o cotidiano e ditar tendências, sobretudo a partir de meados da década de 1950, esse fator, porém, não causou muitas alterações no que podemos tratar, de forma um tanto pejorativa, por cultura popular, visto que está se associa muito mais as matrizes do que ao que está em circulação no mercado, pois seus mantenedores geralmente não tem tanto acesso aos bens de consumo supérfluos.
É nas camadas um tanto mais abastadas da sociedade que sentimos a influência direta dos ideais estadunidenses, visto que a cultura do consumo chegou com vigor e ficou. E grande parte do que esse consumismo pede não rola nas esteiras das fábricas brasileiras, sendo, então importado de quem produz com excedente, neste sentido os E.U.A. investem em uma postura All in para a exportação, visto o inchaço de seu mercado interno, o que traz uma dependência mercadológica um tanto desvantajosa para o Brasil.
Tudo isso se baseia no ideal da grama mais verde do vizinho, que no caso é mais verde mesmo, visto a prevalescência do dólar comercial estadunidense como moeda corrente do mercado internacional.
Mas como nem tudo são flores, a americanização também importou os monstros gerados pela política trumaniana, incorporados nos movimentos de contestação, sobretudo do conjunto de práticas tradicionalmente designado como cultura jovem. Logo a Bossa Nova se vê subvertida em Tropicália, o que foi essencial para a quebra de alguns valores retrógrados da sociedade brasileira. As flores tropicais, porém, assim como seus sucessores “eruditos populares”, brotaram apenas onde se podia pagar e passaram a figurar no meio da Música Popular Brasileira, que traz em sua genealogia dois ultrajes ao ouvinte/leitor, afinal nada tem de popular, pois se veicula por meio de grandes selos que “mercenarizam” a arte e nem de brasileira, pois suas influências são, em grande parte, estrangeiras.
O que pouco se discute, no entanto, sobre a influência estadunidense no Brasil, está ligado a um período intensamente debatido que vai das trevas ao heroísmo no imaginário social e pode ser descrito como a Ditadura Civil-Militar brasileira. Isto porque a assimilação dos ideais estadunidenses pela sociedade, não abre espaço para tal associação. Se fizermos um raciocínio breve, porém, a possível ligação dos fatos está feita, pois o principal argumento dos militares e das classes médias brasileiras que apontam a intervenção militar como algo que salvou o país é o de se os militares não assumissem o poder a “ameaça vermelha” tomaria conta do território, discurso esse largamente difundido por todos os meios a que a mão do Estado estadunidense se estendeu.
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