quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Uma breve história do Natal

Dos sincretismos religiosos à apropriação capitalista, como o Natal se transformou em uma das principais datas do calendário ocidental e oriental

por OSVALDO RODRIGUES JUNIOR

Charge do Padre Sponholz 

O Natal é a celebração do nascimento do personagem principal da história do Cristianismo, Jesus Cristo. Nesta data, celebra-se a renovação dos valores cristãos. Porém, a origem do Natal remonta há muitos anos antes do nascimento do Cristianismo.

Segundo Rainer Souza, na Mesopotâmia celebrava-se o Zagmuk, uma data que simbolizava o fim do ano e era representada pela batalha de Marduk, a principal divindade mesopotâmica contra monstros horríveis. Nesta data, um homem era escolhido para ser vestido e tratado como rei e depois era sacrificado para "pagar" os pecados do mundo.

Nas civilizações nórdicas, o Yule, retorno do Sol, era comemorado em 21 de dezembro. Na Roma Antiga a data de 25 de dezembro celebrava o nascimento do deus Sol, conhecido como “Natalis Solis Invicti”. Entre os dias 17 e 24 de dezembro ocorriam as festas conhecidas como "Saturnália". Regadas a muita bebida e comida, as festas subvertiam os padrões com o objetivo de promover a renovação dos valores vigentes.

Após a morte de Jesus, condenado em 30 d.C acusado de dizer-se rei dos judeus, os apóstolos passaram a promover o Cristianismo. Em 64 d.C começaram as perseguições aos cristãos que agregavam judeus convertidos, não-judeus, escravos e povos submetidos pelos romanos, que acreditavam no retorno de Jesus e na instauração do Reino de Deus. Perseguidos, os cristãos eram obrigados a realizar os seus cultos nas chamadas "catacumbas", que também eram utilizadas como espaço para o sepultamento dos mortos. 

Em 313, o imperador do Império Romano do Ocidente, Constantino e o imperador do Império Romano do Ocidente, Licínio, se reuniram em Milão e promulgaram o "Edito de Milão", documento que marca a liberdade de culto aos cristãos. Segundo a lenda, Constantino teria dito a Eusébio de Cesaréia que antes da batalha de Saxa Rubia, contra Maxêncio pelo controle do Império Romano, visualizou uma cruz no céu e uma voz dizendo “minha paz está contigo... com este símbolo vencerá”. Tal fato teria impulsionado o imperador a aceitar a prática do Cristianismo. Por meio do Edito de Tessalônica, instituído em 390 pelo imperador Teodósio, o Cristianismo foi transformado em religião oficial do Império. Segundo Gilberto Salomão, "com esse ato, ele buscava não apenas exercer um controle sobre a crença cristã, mas, dando ao Cristianismo um caráter oficial, também utilizar a estrutura da Igreja como instrumento organizativo do Império".

Visão da Cruz, de Rafael Sanzio

Com a oficialização do Cristianismo, as festividades pagãs foram cristianizadas na forma de sincretismo religioso. Sincretizar significa reunir, ou seja, foram reunidos aspectos das festividades pagãs e cristãs e o Natal foi transformado na comemoração do nascimento de Jesus Cristo. Segundo estudos, a data de nascimento de Jesus Cristo não foi o dia 25 de dezembro. Conforme Valeriano Santos Costa, "a teoria mais forte atualmente é que a data tenha sido escolhida para se contrapor à principal festa religiosa dos romanos, do Sol Invencível, que se dava na noite do dia 24". Mesmo com a imprecisão dos evangelhos, o Papa Julius I (337 -352) reconheceu a data de 25 de dezembro como a data de nascimento de Jesus Cristo, oficializando as festividades do Natal. 

Atualmente, Jesus Cristo divide o protagonismo do Natal com Papai Noel ou "o bom velhinho", como é conhecido. Tal personagem se originou da história de São Nicolau, um monge turco que viveu durante o século IV. Conta a história que o monge teria ajudado uma jovem a não ser vendida pelo pai atirando um saco cheio de moedas de ouro pela chaminé para o pagamento do dote. Cinco séculos mais tarde, São Nicolau foi reconhecido como santo pela Igreja Católica.

Dia 6 de dezembro foi oficializado como o dia de São Nicolau. Nesta data as crianças aguardavam pelos presentes de um homem velho que usava trajes de bispo. No final do século XIX, o desenhista alemão Thomas Nast publicou na revista norte-americana “Harper’s Weekly” um novo desenho do "Papai Noel". Em 1931 Haddon Sundblom, contratado pela empresa de refrigerantes “Coca-Cola”, criou o padrão vermelho das vestimentas. Tal cor estava diretamente relacionada à própria marca de refrigerantes representando a apropriação definitiva do Natal pela economia capitalista. Daí em diante, a figura do "Papai Noel" vestido de vermelho de barba branca, mais do que a bondade da doação de presentes, passou a representar o consumo, maior característica do Natal, que deve movimentar 31,8 bilhões só no Brasil neste ano de 2014. 

Papai Noel em cartaz publicitário de Haddon Sundblom

Desta forma, sincretismos religiosos e apropriações econômicas transformaram o Natal em tempo de celebração e consumo.

Abraços,
Osvaldo.

Um comentário:

  1. Acredito que o consumo está superando a celebração, os valores estão se perdendo com o passar dos anos.

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