Tudo indica que Bolsonaro saia mais uma vez fortalecido do episódio que a imprensa classifica como "polêmica". Em terra de ditadura feminista gay, quem diria, o misógino homofóbico que é rei
por MURILO CLETO
Bolsonaro foi Bolsonaro de novo. 11 anos depois, voltou a agredir a deputada federal Maria do Rosário. "Só não te estupro porque você não merece", foi o que disse o carioca um pouco antes de empurrá-la e chamá-la de vagabunda. O episódio foi registrado pela RedeTV! e se repetiu ontem na Câmara.
Só nos últimos anos, Jair Bolsonaro já disse que negras são promíscuas, que não entraria num avião pilotado por um negro cotista e que o beijo gay na novela da Globo foi um marco na depravação da sociedade. Em todos os casos, panos quentes reinaram: absolvido ou sequer julgado pelo conselho de ética do Congresso, foi presenteado com a maior votação no Rio de Janeiro em 2014 com 464.572 confirmações nas urnas, nada menos que 6,10% entre 1.068 candidatos.
Há pelo menos 2 motivações pras cenas de ontem, transmitidas ao vivo pela TV Câmara. Primeiro, o machismo nosso de cada dia, cada vez mais corriqueiro no ambiente parlamentar. Durante a votação do projeto de lei que prevê mudanças do superávit primário, na penúltima quarta-feira, a senadora Vanessa Grazziotin, do PCdoB, foi interrompida também com gritos de vagabunda. Segundo, a nuvem de ignorância que tomou conta da imagem de Maria do Rosário no país inteiro, sobretudo graças à sua nomeação como ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República pela presidenta Dilma Rousseff.
Ninguém conhece Maria do Rosário. Nem precisa. Quase tudo o que se sabe sobre ela descende de postagens multiplicadas como viral nas redes sociais sem qualquer conexão com a realidade. Ou melhor, em completa sintonia com o lado mais podre dela. Explico com um exemplo famoso.
Em março deste ano, o próprio Jair Bolsonaro postou em seu Facebook um recorte de jornal em que a então ministra fala a jornalistas sobre o assassinato de um produtor de TV homossexual. Na publicação, Maria do Rosário defende a pena de morte para os criminosos até ser corrigida por alguém que diz serem os infratores menores de idade, o que a obriga a disfarçar usando um controle remoto como celular. A história inteira foi completamente inventada, mas fartamente distribuída na rede de Zuckerberg. Até hoje no ar, o post de Bolsonaro tem nada menos que 22.669 curtidas e 220.386 compartilhamentos.
Apesar de mentiroso, o caso diz muito sobre a relação entre a direita conservadora e os Direitos Humanos. Na falta de entender o que significam, torce-se pelo que quer que eles sejam: um mecanismo de defesa de bandidos. O resultado desta manobra é catastrófico, de várias maneiras. Primeiro porque deixa na esteira os debates sobre segurança pública e que têm servido, até aqui, pra perpetuar um sistema obsoleto e derrotado de encarceramento. Segundo porque autoriza os ataques que os defensores de Direitos Humanos têm sofrido, inclusive e sobretudo Maria do Rosário.
O Bolsonaro de ontem e 2003 é nada menos que a versão explosiva - com mandato e microfone - da sua tia que clica no botão "compartilhar" sem saber direito do que estão falando. Também não precisa. Suas respostas já foram dadas pela própria intolerância, que vibrou com a honestidade de Rachel Sheherazade a respeito dos justiceiros do Flamengo. Este era um grito guardado que saiu do armário, aparentemente, pra nunca mais voltar.
A tendência é que Bolsonaro saia mais uma vez fortalecido. Se punido pela Câmara pela falta de decoro, endossa o discurso paranoico da ditadura petista. Se não, ganha carta branca pra continuar ofendendo minorias com uma blindagem de fazer inveja a torcidas organizadas de futebol no país inteiro.
Em terra de ditadura feminista gay, quem diria, o misógino homofóbico que é rei.
Abraços,
Murilo
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