Credo e Intolerância

por MARCUS NASCIMENTO 

“Porque todos os deuses das gentes são demônios; mas o Senhor fez os céus” (Salmos 95:5) 

O texto a seguir não pretende ser um texto de intolerância, ao contrário, procura combater esse mal tão antigo quanto pernicioso. O ataque feito aqui não é destinado aos mais de 40 milhões de evangélicos, mas aos indivíduos que usam da “fé” para incentivar e cometer atos de intolerância. 

A Constituição brasileira, em seu art. 5º, inciso VI, estabelece que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”. Porém, nos últimos anos, esse trecho (como também muitos outros que cabem nesse momento) está sendo desrespeitado, pois os vergonhosos casos de intolerância por parte de grupos ditos evangélicos vêm se repetindo de forma sistemática. 

A pastora da Assembleia de Deus Nádia Pereira foi detida em maio de 2009, acusada de agressão a umbandista Cirene Dark. O ataque com um banco de madeira seguida da tentativa de atear fogo a vítima teria sido motivado por uma homenagem feita a uma entidade por parte de Cirene. 

Em julho do mesmo ano, o pastor Tupirani da Hora Lores e o estudante Afonso Henrique Alves Lobato, da Igreja Geração Jesus Cristo, foram presos após divulgarem na internet inúmeros textos e vídeos que faziam apologia à violência contra religiões afro-brasileiras, além de negarem as leis dos homens. 

O mesmo Afonso Henrique, auxiliado por outros três jovens, invadiu e depredou o Centro Espírita Cruz de Oxalá, na zona sul do Rio de Janeiro. De acordo com o relato de Celso Quadros, publicado no portal da Igreja Metodista, os invasores “chegaram dizendo que queriam ver onde estava o demônio e foram direto para o terreiro (...). Quebraram tudo". 

A depredação do terreiro em João Pessoa, capital da Paraíba, no ano de 2012, talvez seja o caso mais chocante. O pastor, com a colaboração de outros membros de sua igreja, adentrou um terreiro que pertencia a uma recém-convertida munido de um martelo e destruiu tudo que viu pela frente, depositou o que restou da destruição em um terreno baldio e ateou fogo. Não satisfeito, publicou as fotos do ato no seu site e as intitulou como “Destruindo Obras Malignas". 

Se você desconfia desse relato, então confira as imagens a seguir. 

Esses casos citados são apenas alguns exemplos dessas manifestações violentas e hediondas que ocorrem no país famoso por “respeitar a diversidade”. A visão dicotômica do mundo por parte dessas religiões, onde Deus é a igreja e o Diabo é tudo o que está fora dela, segundo o professor Marcos Alvito, pode ser a chave para compreender atitudes intolerantes. 

Todos os males do mundo, de acordo com essas religiões, seriam provenientes de todos aqueles que não estão dentro de seus preceitos, como os homossexuais e as religiões afro-brasileiras, com os quais mantêm uma verdadeira guerra. 

A história possui bons exemplos do que a intolerância religiosa pode resultar. Criar um espaço de convivência pacífico entre todos fica extremamente difícil quando alguns enxergam pessoas com diferentes credos e práticas como inimigos. 

Abraços, Marcus.