por LUISA DE QUADROS COQUEMALA
“... Havia uma lua grande no meio do mundo. Eu perdia meus olhos olhando você. Os raios da lua filtrando-se sobre a sua cara. Não me cansava de ver essa aparição que era você. Suave, esfregada de lua; sua boca inchada e suave, umedecida, colorida de estrelas; seu corpo transparentando-se na água da noite. Susana, Susana San Juan.”
Em 1955, o escritor mexicano Juan Rulfo publicava o que seria seu primeiro e único romance: Pedro Páramo. A história, basicamente, gira em torno da busca que Juan Preciado faz por seu pai, Pedro Páramo – um pedido de sua mãe momentos antes de morrer.
Assim, Juan Preciado parte para Comala, cidade de seu pai. Diante de tal configuração, logo vem à mente a estrutura típica desse tipo de enredo: ao fazer uma busca pelo outro, a personagem acaba por realizar uma reflexão e crescimentos interiores, consequência direta das relações que sua busca traz. Contudo, de cara já há uma quebra de expectativa porque o que mais esperamos que aconteça simplesmente não acontece.
Assim que chega a Comala, Juan Preciado tem vários encontros cobertos de conversas aparentemente desconexas e desaparecimentos misteriosos. Com o decorrer da história, descobrimos que estamos num local onde vida e morte, passado e presente confundem-se: Comala, outrora cheia de vida, agora é uma cidade fantasma! O livro não é composto de capítulos, mas de cenas desconexas, momentos que vão e voltam, intercalam-se na narrativa.
E é justamente através do ligamento do desconexo que conseguimos construir uma imagem total. Quase como montar um quebra- cabeça. Logo entendemos que Pedro Páramo é uma espécie de coronel e, mais do que isso, percebemos que sua história vai sendo contada na medida em que Preciado dissolve-se cada vez mais na narrativa, dando lugar não somente à história de seu pai, como também a outras personagens extremamente interessantes e essenciais para a compreensão do enredo.
E o mais impressionante é que, apesar da estrutura fragmentada que seria um marco para a quebra do realismo Europeu à la século XIX na literatura latino-americana, o autor consegue compor quadros desconexos, mas pintados com grande beleza e sensibilidade. A própria fragmentação é bem pensada num nível de extrema maestria – e, no fim, o que temos é uma galeria que se apresenta de forma magistral. Quando menos esperamos, estamos imersos num universo de morte e encanto, em sintonia com Preciado, que caminha reflexivo diante de tudo que descobre: “Percorreu as ruas solitárias de Comala, espantando com seus passos os cães que fuçavam o lixo. Chegou até o rio e ali se entreteve olhando nos remansos o reflexo das estrelas que estavam caindo do céu. Levou várias horas lutando com seus pensamentos, jogando-os na água negra do rio”.
Não sabe-se exatamente o momento exato em que a história de Pedro Páramo se passou e o momento em que a história de Juan Preciado se passa. Contudo, há indicações de que Páramo viveu em época da Revolução Mexicana. Há trechos, inclusive, em que o nome de Pancho Villa, grande personagem da Revolução, aparece.
Num México que vivia em meio a degradações, explorações e abusos com a ditadura de Porfírio Días, e que iria lidar por muito tempo com assuntos como a questão agrária e a enorme injustiça social, acredito que Rulfo uniu magistralmente a forma ao conteúdo. Num México desfragmentado em si mesmo, a própria realidade passa a ser desconexa.
Comala com seu coronel, sua população pobre e extremamente religiosa e a passagem de revolucionários, dá um retrato geral do que é ser mexicano. Preciado é apenas mais um filho de coronel. Em certo sentido, sua busca é também a busca de sua nação: a tentativa de explicar seu passado para então, quem sabe, conseguir seguir em frente, em busca de dias melhores e mais justos.
Não é à toa que este pequeno romance serviu como principal inspiração para a obra Cem Anos de Solidão, do aclamado autor Gabriel García Márquez. Jual Rulfo, de cara, mostra-se um autor muito talentoso, despertando em nós uma sensação de totalidade e fazendo-nos recordar a bela passagem de Walter Benjamin: “Em consequência, o romance não é significativo por descrever pedagogicamente um destino alheio, mas porque esse destino alheio, graças à chama que o consome, pode dar-nos o calor que não podemos encontrar em nosso próprio destino. O que seduz o leitor no romance é a esperança de aquecer sua vida gelada com a morte descrita no livro”.
Ficha Técnica
Autor: Juan Rulfo
Nacionalidade: Mexicano
Livro: Pedro Páramo
Edições publicadas no Brasil: Paz e Terra (1998), Editora Record (2004) e BestBolso (2008)
Ficha Técnica
Autor: Juan Rulfo
Nacionalidade: Mexicano
Livro: Pedro Páramo
Edições publicadas no Brasil: Paz e Terra (1998), Editora Record (2004) e BestBolso (2008)
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