por SANDRO CHAVES ROSSI
As redes sociais andam tumultuadas ultimamente por causa de uma propaganda "polêmica" do Boticário. A propaganda é sobre o dia dos namorados. Em cena aparecem diversos casais se presenteando em comemoração ao dia. Basicamente são três casais, entre eles há um casal de gays e um outro de lésbicas. Não há nenhuma cena de beijo entre os casais, na verdade o que acontece é somente entrega do presente e um abraço. Somente isso, mas o suficiente para despertar a raiva dos segmentos mais conservadores da sociedade.
A campanha contra O Boticário partiu de alguns grupos evangélicos e se iniciou na conta da empresa no YouTube, onde o vídeo da propaganda em questão recebeu vários "deslikes" - opção "não gostei" que existe abaixo do vídeo. Em poucas horas, o vídeo tinha mais de 100 mil deslikes. O pastor Silas Malafaia não perdeu a oportunidade e iniciou uma campanha de ódio contra a empresa, incentivando seus fiéis a não comprarem mais seus produtos até que haja uma "retratação". Malafaia fez um vídeo onde ele critica ferozmente a empresa, algumas frases valem destaque:
"Quero conclamar as pessoas de bem a boicotar os produtos dessas empresas como o Boticário. Vai vender perfume para gay!"
"Sou contra e estou aqui pra dizer (...) a família é milenar, homem, mulher e sua prole. (...) Tenho o direito de preservar macho e fêmea, porque essa é a história da civilização humana."
"Hoje a sociedade reprova o amor de um adulto sobre uma criança. Aquilo é o quê? É uma doença? Homossexualismo também era considerado uma doença"
"Quer dizer que todo mundo nasce homossexual? Eu digo, se 48 ou 50% foram violados quando eram crianças ou adolescentes..."
Malafaia insiste em dizer que 50% dos homossexuais foram violados quando crianças ou adolescentes, porém não cita a fonte de sua pesquisa. Mesmo assim, é mais que o suficiente para instigar o ódio de uma legião de fiéis e simpatizantes do pastor.
Vale lembrar que estamos falando de pessoas que seguem a ideologia de um homem que, acima de tudo, pregava o amor e o respeito, e que, em sua época, fazia parte de uma minoria e também sofreu muito por conta disso. Não é só essa a questão, estamos falando de gente que se incomoda com uma propaganda e ainda exige respeito por se sentir incomodado, porém ignora a situação lamentável da homofobia no Brasil, que já atinge dados alarmantes.
O Brasil é um dos países com mais casos de homofobia no mundo inteiro. O Grupo Gay da Bahia (GGB) é o maior grupo de ativismo pelos direitos civis dos homossexuais nos Brasil e é composto, em sua maioria, por professores e pesquisadores de universidades. São deles os dados mais precisos sobre o cenário da homofobia no país. Segundo o professor Luiz Mott, fundador do GGB e membro do departamento de antropologia da UFBA, a homofobia é uma "epidemia nacional" e ele diz com total certeza e embasamento de que o Brasil é o campeão mundial em assassinatos de homossexuais, tendo sua marca recorde em 2012, quando um homossexual foi assassinado a cada 28 horas.
A Secretaria Nacional de Direitos Humanos, que baseia suas estatísticas em denúncias do Disque 100, registrou 337 denúncias ligadas à homofobia apenas entre janeiro a abril de 2014, o equivalente a mais de duas por dia. São Paulo é o primeiro disparado, com 97 registros (28% do total), seguido por Minas, com 31 (9%). Em 2013, foram 1.695 denúncias pelo Disque 100, sendo 745 de janeiro a abril. Em 2012, houve um pico de 3.017 denúncias, quase o triplo de 2011, quando foram registradas 1.159 queixas.
Um relatório da secretaria que foi divulgado em 2013 e comparou os números de 2012 revelou que 9.982 violações de direitos humanos foram cometidas contra 4.851 vítimas LGBT. No relatório de 2011, foram 6.809 violações contra 1.713 vítimas. Os dados mostram ainda que, em 47,3% dos casos, os denunciantes não conheciam as vítimas. Mais de 71% das vítimas são do sexo masculino e mais de 61% têm de 15 a 29 anos.
Se engana quem acha que a homofobia atinge apenas os gays, ela também atinge os heterossexuais. Segundo pesquisadores do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a homofobia está ligada ao modo como as pessoas percebem as diferenças entre homens e mulheres. Independentemente da orientação sexual, são as roupas, os trejeitos e os estereótipos de masculino e feminino que suscitam o preconceito. Não é difícil achar casos que justifiquem esse estudo, vale lembrar daquele triste episódio que aconteceu em 2011, quando cerca de 20 pessoas espancaram pai e filho por estarem abraçados, em São João da Boa Vista-SP. Ou há menos de um mês atrás, no começo de maio, quando três amigos foram brutalmente espancados no Rio de Janeiro por estarem abraçados. No primeiro caso, o pai teve uma orelha decepada, no outro caso um dos meninos perdeu quase que integralmente a visão do olho esquerdo.
O governo não toma nenhuma providência em relação a isso? Esse é o problema. Seria menos pior se os conservadores se limitassem somente a propagandas e novelas, porém o ódio deles acaba se estendendo até o congresso. Desde 2007 o PLC-122 tramita pelo Legislativo e no começo desse ano ele foi arquivado no Senado. Pela regra da Casa, todas as propostas que não avançam em duas legislaturas seguidas (oito anos) seguem para o arquivo caso não sejam aprovadas. O projeto pode voltar esse ano se ao menos 27 senadores apresentarem um pedido semelhante nesse sentido.
Há outro projeto semelhante ao PLC-122 que tramita na Câmara, porém ele é um pouco mais abrangente. O projeto é da deputada Maria do Rosário (PT-RS), ele tipifica crimes de ódio e intolerância contra diferentes grupos, como religiosos e migrantes, mas tem a criminalização da homofobia como ponto principal. Quem resiste a esse projeto é a Bancada Evangélica, que alega que tal projeto viola o direito à liberdade de expressão e que isso pode causar equívocos futuramente, visto que o projeto apresenta reclusão de um a cinco anos para quem discriminar relações homoafetivas. A Bancada Evangélica teme muito que esse projeto seja aprovado, pois em um estudo com os recém eleitos no começo do ano, 261 (50,8%) são a favor da criminalização da homofobia.
Torcemos para que o projeto seja aprovado, vale lembrar que não se trata de um privilégio, como a ala conservadora gosta de dizer, mas sim de uma medida que deve ser tomada devido à situação calamitosa da comunidade LGBT no Brasil, porque o ódio não se reflete somente a uma marca, mas sim a toda sociedade. E, se for ódio por ódio, eu prefiro que deixem de comprar perfume do que tirem a vida de alguém.
O brasil Se fudendo com impostos altos, petrolao, o pt ea esquerda só atrasando o brasil, um país falido, e vc vão falar denuna propaganda da boticário? Vcs só podem ta de brincadeira, olha o país ta um lixo tanta coisa para falar de problemas e vc falam de uma propaganda? Meu deus que lixo de blog
ResponderExcluirAs reações negativas em relação a propaganda são um reflexo de uma sociedade extremamente homofóbica e que mata centenas de homossexuais todos os anos, é disso que o texto fala e não unicamente de uma propaganda. O fato do país estar em crise é motivo para negarmos os direitos das minorias? Você sabe interpretar um texto? Você é retardado?
ResponderExcluiré retardado, claro!
ResponderExcluirótimo texto. Desafinado rocks.
A propaganda do boticário so esta mostrando que todos tem direito de amar.e também tem direito de respeito....a cena não mostra nada mais alem disso.......por causa disso eles não vão. Parar de vender seus belíssimo perfumes........
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