segunda-feira, 1 de junho de 2015

Escrevo às segundas

por MURILO CLETO

"chega de bandido pra prender". Foto de Dafne Sampaiohttps://www.flickr.com/photos/esforcado

É uma merda escrever às segundas. Na verdade, como sou um pouco neurótico, estabeleço um critério pra que o meu texto esteja no ar pontualmente às 6h, que é quando a segunda-feira começa de verdade. Antes disso ainda é domingo, na minha cabeça. Como não parece muito saudável concluir algum raciocínio durante o fim da madrugada, qualquer que seja, programo a postagem algumas horas antes. Isso significa que, a rigor, eu escrevo mesmo aos domingos.

É uma merda escrever aos domingos. Com a rotina menos rígida, o domingo parece um belo convite pra não se fazer nada. E a rodada do futebol, que começa pela manhã com os campeonatos europeus e termina só à noite com os nacionais, também não favorece muito a produtividade. Isso sem contar o irresistível desejo de pôr em dia pelo menos alguma das séries atrasadas do Netflix. 

Pra evitar o domingo, também é possível escrever antes. De repente aos sábados. Impossível: o almoço na casa da avó bloqueia qualquer reflexão inteligível. Mas não é só isso. Com tanta treta rolando, o tempo todo, fica difícil manter um texto informativo devidamente atualizado com um hiato de 48 horas.

Bom, eu já tentei escrever às quintas. Escrever e postar, inclusive. Ruim porque era perto do fim de semana. Ninguém vai ler nada perto do fim de semana. E pior, à época também escrevia às quintas o Clóvis Gruner no Chuva Ácida. Não que as pessoas fossem ler alguma coisa na quinta, mas, se fossem, eu que não seria.

Cheguei à conclusão de que a segunda é o melhor dia pra escrever. A segunda tem uma áurea de renovação, talvez. Menos cansadas, as pessoas devem estar mais dispostas a questionar sobre si, a vida, a sociedade, sei lá, então é possível que elas leiam.

Mas segunda-feira, pelo menos quinzenalmente, tem a coluna da Eliane Brum. Nem eu me leio quando tem a Eliane Brum. Numa segunda dessas tomei a péssima decisão de ler um texto dela enquanto aplicava uma prova só pra passar o tempo. Tive que disfarçar o choro simulando um ataque alérgico tragicômico. Quer dizer, trágico só pra mim.

Chorar em texto meu? Só se for de desgosto, fiquei pensando.

Tudo bem, ela só escreve a cada 15 dias. Vai que nas outras segundas sobra tempo pra mim. Poxa, mas segunda é dia do Duvivier na Folha. E é toda segunda. Em meia dúzia de parágrafos, ele torna inúteis os meus 40. Se bem que, de qualquer jeito, ninguém lê 40 parágrafos.

Ainda tem o Matheus Pichonelli, que, nem sempre, mas quase toda segunda marca presença no Yahoo. Isso quando não tem crônica na Carta. Aliás, não é só segunda. Dele eu não fugiria com certeza nem aos domingos. Com tanta gente muito melhor, por que eu também escreveria no mesmo dia?

Na verdade acho que nem eu sei mais. Mas, se ainda assim você achar que de repente vale a pena e não estiver fazendo nada... Bem, eu escrevo às segundas.

2 comentários:

  1. Independente do dia, eu, como leitor, acho seus textos bons e uma leitura obrigratória para a semana!

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  2. É, precisa praticar mais...

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