sexta-feira, 19 de junho de 2015

Boato sobre gênero no PME mobiliza ignorantes em Itararé

Por Facebook e Whatsapp, texto indica que alunos poderão escolher o banheiro para frequentar nas escolas e conclama indignados a protestarem contra aprovação do Projeto de Lei previsto pelo Plano Nacional da Educação

por MURILO CLETO



Nos últimos dias, tem ganhado força nas redes sociais uma série de boatos sobre gênero no Plano Municipal de Educação em Itararé. Condição posta pelo Plano Nacional de Educação, aprovado no ano passado em Brasília, o PME tem como principal objetivo orientar as políticas públicas dos municípios para enfim alcançar as 20 metas e 200 estratégias postas ao ensino em todo país até 2024.

Em Itararé, o Plano Municipal de Educação foi objeto de discussões desde setembro de 2014 e envolveu a participação de representantes de pelo menos 32 instituições de educação formal e não formal, do poder público executivo e legislativo e da sociedade civil. O texto final já se encontra no Departamento Jurídico da prefeitura e segue para votação, com data indefinida, na Câmara dos Vereadores. Por Whatsapp e Facebook, um comunicado tem tirado o sono dos mais conservadores. Segue o texto, fidedigno ao original e na íntegra:

Leiam com atenção.

Amanhã (15/06/2015), será votado na Câmara Municipal o Plano Municipal da Educação. Nesse plano está incluso a palavra Gênero, com a inclusão desse termo o município deverá implantar a "Igualdade de gênero" nas escolas municipais.
Mas afinal oque é isso?
Essa ideologia tem como base que somos todos iguais, anulando o sexo de cada um, ou seja, ninguém nasce homem ou mulher. Eles acreditam na formação psicológica do gênero, assim cada um escolhe oque quer ser.
Se isso for aprovado no nosso município, as escolas vão ter que ensinar crianças a partir dos 3 anos que eles são apenas crianças, que eles não tem sexo, não são meninos nem meninas, são apenas crianças e vão escolher sua sexualidade.
Quem não concordar com isso está convidado a comparecer na sessão de câmara, para mostrar aos vereadores nossa reprova.

Que fique claro que não é uma reprova a quem é homossexual mas sim uma reprova a maneira que querem impor isso aos nossos filhos. Apenas queremos a preservação do direito de educá los e orienta los quanto a sexualidade.
#não ao preconceito
#sim a inocência da criança
#sim ao RESPEITO
POR FAVOR REPASSE POR FAVOR.Se aprovada,os meninos poden usar banheiro d meninas nas escolas ou qualquer outro banheiro publico por exemplo.

Diante da panaceia, a Secretaria Municipal de Educação emitiu uma nota esclarecendo os rumores. O comunicado informa que o conteúdo da mensagem foi motivado pelo plano de Itaberá, município vizinho, e que, como não há menção à questão de gênero no plano nacional, não seria sequer possível inclui-la no municipal. A nota destaca ainda que "orientação sexual" já é um dos temas transversais para debates na escola, como previsto desde a segunda metade dos anos 90, cujo objetivo principal é combater a discriminação de gênero.

Além disso, vale destacar que a reação nervosa ao que se imagina compor o documento do plano municipal dialoga com o contexto nacional de predomínio do analfabetismo funcional e da desonestidade intelectual, grandes marcas do Brasil contemporâneo. 

E o manifesto/convocação diz muito sobre quem o redigiu e o compartilha. Em primeiro lugar, que a sua capacidade na elaboração ortográfica é tão grande quanto a compreensão do que significam os conceitos de "ideologia", "gênero" e "igualdade". Isso porque o pressuposto de que a "igualdade de gênero" consiste numa "ideologia" já começa agredindo a própria noção marxista de "ideologia", que diz que ela não é o que se conclui por convicção, mas que se reproduz como força simbólica na forma de valores arraigados. Desta forma, no sentido estrito do termo, "ideologia" é muito mais a ideia naturalizada de que a condição biológica da criança determina sua identidade de gênero do que qualquer problematização sobre isso.

Em segundo lugar, o boato é fruto de uma intolerância especulativa sintomática. Não há uma linha sequer a respeito disso no documento que segue para votação na Câmara. Quem escreveu não o leu, e quem compartilha muito menos. Aliás, é importante salientar que não há representação alguma no país que defenda "igualdade de gênero" nestes termos anunciados pela convocação. A noção de igualdade deveria partir de outra, muito mais abrangente, que é a de equidade, e que por sua vez estimula o reconhecimento de uma multiplicidade de gêneros que não se resume à limitação que se que impõe ao indivíduo quando se considera a identidade como o resultado inequívoco de uma imposição pela sua genitália. E é bem por isso que a ausência do conceito de "gênero" no plano nacional, duramente criticada por movimentos LGBTT, é tão lamentável. Numa palavra: não tem, mas deveria.

Fosse a identidade de gênero objeto de preocupações mais maduras, o assassinato de Rafael Melo poderia ter sido evitado. No último sábado, dia 13, ele foi encontrado morto na Grande Vitória. Tinha 14 anos e sonhava em ser estilista. Na escola, era objeto de chacota e perseguições dos colegas. Junto a ele, encontram-se hoje outros 28 homossexuais assassinados por dia no Brasil, segundo o Grupo Gay da Bahia, principal instituição que discute as implicações da homofobia no país. Na Inglaterra, quase metade dos transgêneros se suicida antes de completar 25 anos.

Apesar disso tudo, alguns grupos já articulam mobilização para a próxima sessão da Câmara, na próxima segunda-feira, dia 22.

Abraços, 
Murilo

5 comentários:

  1. E os grupos favoraveis ao plano, nao vao se reunir e ir até a cãmara mostrar pra esses ignorantes, filhos do chapeludo, do falecido coronél e agora do presidente da camara, quem manda de vdd? Vao se acomodar mesmo?/??

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  2. Belas palavras, que até pode realmente convencer idiotas. Não a está ideologia e pronto!

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  3. Você até escreve bem, ficou bunitinho seu texto, acredito que até vai enganar os verdadeiros idiotas úteis. Não a essa IDEOLOGIA MALDITA e PRONTO.

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  4. nossa, Germano! Como você é burro! Está pra nascer um cara tão burro quanto você.

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  5. Germano, você realmente não entendeu o texto. Não existe a palavra Ideologia de Gênero no Plano Municipal de Educação de Itararé, deu para entender? Mesmo assim, a histeria de católicos, evangélicos e demais cristãos é sintomática. Vocês utilizam a palavra de "Deus" ou a compreensão seletiva dela para propagar o ódio, a intolerância e o preconceito. Bem dizem as pessoas que, se Jesus voltasse, o último lugar que ele iria seria a Igreja.

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