por MURILO CLETO
Luciana Genro não foi pro 2º turno. Tudo bem, todo mundo já sabia, inclusive ela e o PSOL. Mas a campanha de 2014 deixou marcas fundamentais pros rumos duma política partidária que se considere mais ética e justa. E eu, como eleitor de Dilma Rousseff, jamais poderia deixar de reconhecer a bela história que não se encerrou ontem, mas, pelo contrário, ganhou vigor e pode ser a catapulta pra uma reforma mais do que urgente no país.
Com Luciana, aprendemos que é possível obter 1 milhão e 600 mil votos sem o apadrinhamento de grandes empresas. Aprendemos ainda que dá pra levantar a bandeira do casamento igualitário e ter 4 vezes mais votos que o discurso de ódio de Levy Fidelix.
Luciana também ensinou que é possível fazer uma oposição combativa, mas também propositiva. Mostrou que na principal alternativa ao PT estão as mais altas contradições de uma retórica que patologizou o petismo e sobrevive de nada além disso. Seu discurso sobre economia pode ter problemas, mas marca posições claras sobre o que fazer com a dívida pública e a regulação dos juros. Escancara o que Marina Silva apresentou de mais perverso na "nova política" das mesmas práticas que sustentam o poder desde que a democracia já não é mais uma novidade.
Aprendemos ainda que apesar de todos os avanços do país nestes últimos 12 anos, eles não são o suficiente. Não por acaso reside no eleitorado jovem sua principal base de sustentação: é uma geração que não conhece o país antes e depois de Lula, e não pode ser condenada por isso. Pode até buscar em gráficos e tabelas o que significaram essas mudanças, mas não sentiu na pele o que é deixar de morrer por inanição ao mesmo tempo em que se viu o país caminhando pra figurar entre as maiores economias do mundo, com os menores registros de desemprego e os maiores índices de escolaridade de todos os tempos. É ótimo, mas não o suficiente.
A gaúcha errou ao tentar colar sua imagem com aquele mês de junho, que pouco ou nada teve a ver com uma nova esquerda. Mas quem pode culpá-la? Esse era o maior sonho guardado de uma militância enclausurada que não se reconhece nos partidos e nos movimentos sociais de velha guarda.
Com Luciana Genro, aprendemos que Dilma não precisa se envergonhar da sua trajetória e que pode, inclusive, fazer dela um marco pra ir além e enfrentar as lideranças que hoje financiam o ódio contra o seu partido, que tirou 36 milhões de pessoas da pobreza e as incomoda profundamente por isso. Aprendemos que a curva à esquerda não é mais uma expectativa irracional, mas uma necessidade para romper na raiz a nocividade daqueles que vêem sua soberania de 5 séculos irreversivelmente ameaçada.
O discurso de Luciana e do PSOL ainda tem muito pra amadurecer, assim como também tem o eleitor brasileiro. Se está derrotada nas urnas, não é na retórica anti-Nordeste que encontra justificativa. Luciana ensinou ao PSDB que esse tipo de discurso estagnou e deixou Aécio com a mesma proporção de votos que Serra obteve em 2010. Enquanto isso, o partido esquerdista cresceu 100% em relação a 2010, quando o PSOL contava com o dono de uma das trajetórias políticas mais notáveis do país, Plínio de Arruda Sampaio.
Como disse ontem, simplesmente por ter incluído pautas que passam longe do temor peemedebista sua campanha já é vitoriosa. E é mesmo. Competitiva ou não, uma o coisa não podemos negar: aprendemos muito com Luciana Genro.
Abraços,
Murilo
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