quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Tuas ideias não correspondem aos fatos


por OSVALDO RODRIGUES JUNIOR 



Desde as 20 horas, 27 minutos e 53 segundos do último domingo, 26 de outubro, quando 98% das urnas já estavam apuradas e o Tribunal Superior Eleitoral – TSE – confirmou a reeleição da presidente Dilma Rousseff com 54.501.118 votos (51,64%), começou a busca por explicações para a permanência do Partido dos Trabalhadores – PT – no poder por 16 anos.

Assistimos e continuamos assistindo a um show de horrores. Entre as mais esdrúxulas explicações dos "cientistas políticos" da rede que votaram contra a corrupção com uma camisa que estampa o distintivo da Confederação Brasileira de Futebol – CBF –, uma das entidades mais espúrias e corruptas do esporte mundial, o foco foi o Nordeste e o Programa Bolsa Família. A rede foi tomada por um ódio que me fez sentir como deveria ser viver na Alemanha durante o Terceiro Reich. 

Entre os inúmeros insultos xenofóbicos, lá estavam os nordestinos comparados a porcos, burros, sendo ameaçados de violência física, dentre outras atitudes dignas dos piores momentos da história. Porém, parte dos “conscientes de junho” que foram às ruas tirar selfie para postar no Facebook atacou no preconceito social, ou seja, nordestino é pobre, recebe Bolsa Família, logo, elegeu Lula e agora Dilma para governar o meu país conservador e elitista. 



Este pensamento preconceituoso foi endossado pelo comentarista e colunista Diogo Mainardi no programa Manhattan Connection. Conhecido pelo antipetismo e pelo elitismo, o programa dessa vez ultrapassou todos os limites do bom senso. Mainardi, que vive na Itália, disse o seguinte: “Essa eleição é a prova de que o Brasil ficou no passado. Não é nem Bolsa Família, não é marquetagem. O Nordeste sempre foi governista, sempre foi bovino, sempre foi subalterno ao governo", diz Mainardi. "É uma região atrasada, pouco educada, pouco instruída, que tem grande dificuldade para se modernizar". 

Em todos os argumentos, a explicação para a derrota de Aécio Neves foi pautada no preconceito social. Tal explicação não leva em consideração os avanços da região durante os 12 anos de governo petista. Em 2011, o The Economist destacou em artigo publicado a evolução da região. Tal artigo vai de encontro ao que informou o Censo do Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia – IBGE – em 2010 conforme a tabela abaixo: 

Quando Lula assumiu a presidência da República, o Nordeste tinha um PIB de R$ 191.592.000. Em 2009, a região apresentou PIB de R$ 473.720.000, uma evolução de 128,46%. Desta forma, a região só não cresceu mais do que o Norte e o Centro-Oeste no período. Porém, destaca-se que cresceu mais do que o Sudeste, que teve 113,94% de evolução.


Relatório divulgado pela Fundação Perseu Abramo com base nos dados do IBGE identificou a queda da pobreza no País entre 2002 e 2012, 57,4%, o que significa 22,5 milhões de brasileiros deixando a condição de pobreza. Dentre eles os nordestinos, que tiveram uma redução de 54,9%. Dados do IBGE também demonstraram que cresceu o número de empregos com carteira assinada. A maior evolução foi identificada no Nordeste: 6,8%. 

Reafirmando todos os dados, o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD –, identificou que, apesar de ainda registrarem "baixo desenvolvimento", os municípios da região Nordeste são os que mais crescem no Brasil. Entre os Estados, o maior crescimento do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal foi registrado no Piauí, 30%. Lá, não por acaso, Dilma teve a sua segunda maior vitória, 78% dos votos válidos. 


Além do crescimento econômico, o Brasil avançou em escolaridade. Em duas décadas o país cresceu 54%, segundo dados do PNAD. Apesar de ainda concentrar a maior taxa de analfabetos, a região Nordeste reduziu de 23,4%, em 2002, para 16,6%, em 2013. Cresceu o Ensino Superior e Técnico/Tecnológico na região, com o processo de interiorização dos campi superiores e técnicos federais. Este processo de democratização do ensino superior permitiu o aumento do número de eleitores com curso superior

Os dados demonstram que o Nordeste estereotipado por Mainardi não existe mais. Outro erro de Mainardi é afirmar que o povo nordestino é bovino e "governista". Flávio Dino, do Partido Comunista do Brasil - PCdoB -, que tirou a família Sarney do poder no Maranhão, é a maior evidência disso. 

Por tudo isso, irracionais estão sendo os xenofóbicos que não enxergam o óbvio. Os nordestinos que se transformaram em atores sociais nos últimos 12 anos não aceitam mais serem marginalizados.


Abraços,
Osvaldo.

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