por MURILO CLETO
O Homem da segunda metade do século 20, segundo Bauman, é líquido. Assim como são os seus amores, medos e essa modernidade que já não é mais a mesma dos oitocentos. Entre ele e o de hoje há muitas semelhanças: o gosto pelo mercado, pela exposição da intimidade, pela comida enlatada.
Dos vários tipos produzidos pela modernidade agora mais pra gasosa, um se notabiliza com destaque: o Homem Espuma. Fruto do processo de horizontalização da comunicação através das redes sociais, o Homem Espuma faz delas o seu palco principal para a produção dos mais diversos raciocínios, invariavelmente embasados por vários nadas e que, por sua vez, resultam em nadas ainda maiores.
Esses dias mesmo, o Homem Espuma foi notícia com uma declaração impactante: "isso é muito importante para o desenvolvimento desta questão que interessa a todos e que precisa ser muito bem trabalhada", disse. Apesar de ninguém ter perguntado, afinal, que questão era essa, o homem foi capa de revista, já que o que diz importa muito menos do que o próprio ato de dizer.
Uma vez, só de sacanagem, um editor trocou suas palavras por "'blá blá blá, blá blá blá, blá blá blá', disse o Homem Espuma". E ninguém percebeu. Teve site que até reproduziu.
O Homem Espuma está livre de polêmicas. Seu partido não é de direita, nem de esquerda. "É pra frente", diz. A última vez em que foi perguntado sobre o casamento gay, disse que o futebol é um esporte fundamental. Quando queriam saber da sua posição a respeito do aborto, afirmou que quem não deve não teme.
Quando for enterrado, o Homem Espuma já tem gravados os dizeres na lápide: "aqui jaz um homem que soube enrolar muito bem".
Abraços,
Murilo
Seu conceito de homem espuma é muito bom para limitar-se apenas neste breve texto, acho que vocẽ pode aprofundá-lo e torná-lo ainda mais interessante e, mais,penso seu texto no limite da teoria de Bauman, mesmo que você o cite e o legitime, pois vejo que a teoria dele já está em muitos pontos em desgaste, por mais que outros tantos sejam presentes e pertinentes. Penso que poderia utilizar-se de certos aspectos da literatura, semelhante Musil ou Proust e descrever ainda mais o que tem da bolha com o homem...
ResponderExcluirLi pela primeira vez a expressão O Homem Espuma, que eu não conhecia, no livro final do romance GOTO, A Lenda do Reino do Barqueiro Noturno do Rio Itararé, do poetinha Silas, num livro que um parente meu comprou, meu tio e pais leram, li tb, e vi lá essa expressão. Gostei. E gostei de vê-la de novo aqui. - Muito bom. Junior
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