segunda-feira, 23 de junho de 2014

Os Chatos Pelo Nome

É de você que estou falando se a única coisa que tem a dizer sobre a Copa é que o verdadeiro patriotismo está em outubro, que enquanto me roubam eu grito gol e que a política do pão e circo está nas quatro linhas dos estádios superfaturados


por MURILO CLETO



Quebrando o protocolo, o recado hoje é curto. O início da Copa do Mundo no Brasil trouxe uma oportunidade ímpar de manifestações das mais diversas no país. Nas ruas ou nos meios virtuais, por menos corrupção ou mais salários, a verdade é que pouco se viu tanta manifestação de ideias circulando por aí. 

Ideias como as de Fabio Jekupé, líder da aldeia Krukutu, na cidade de São Paulo. A TV não mostrou, mas um menino indígena de 13 anos convidado para participar da cerimônia de abertura dos jogos, no dia 12 de junho, sintetizou numa faixa o que a Constituição do país prometeu em 1988 e que até hoje governo nenhum cumpriu: "DEMARCAÇÃO JÁ!



O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto reuniu mais de 12 mil pessoas em torno do Itaquerão às vésperas da abertura do torneio e conseguiu que o programa "Minha Casa, Minha Vida" contemplasse o grupo. Dilma ainda se comprometeu a ampliar o alcance do programa para entidades. Se até agora o limite de habitações por organização é de mil unidades, o novo compromisso quadruplica o teto.


Mas, se por um lado, o fato de todos os holofotes estarem voltados ao Brasil estimular movimentos com pautas historicamente agredidas, por outro também traz à luz o que de pior a humanidade produziu ao longo da sua existência.

Agora, a nova tendência das redes sociais é o meme "enquanto te roubam você grita gol", cartaz que circula como água - quer dizer, pra quem vive no estado de São Paulo certamente é mais que água - no Facebook depois de meia dúzia exibirem-no na rua. Há ainda os que recorrem ao mais rasteiro dos recursos nas aulas de História sobre Roma e reproduzem a velha analogia do "pão e circo" para atribuir aos fãs de futebol o papel de "alienados" que negligenciam a dureza da realidade por 2 horas de bola rolando.

Outra grande vedete é a recorrente indignação pelo patriotismo que nos reveste em períodos de grandes competições desportivas e que não aparece na hora das eleições. Mais do que pedante, essa manifestação revela o quanto a predileção eleitoral do outro significa para o sujeito, na verdade, ausência de engajamento político.

Talvez por isso, na base do discurso contrário ao voto obrigatório, esteja também outro, aquele que atribui a catástrofe dos péssimos resultados das eleições à falta de consciência daqueles que somente vão às urnas por obrigação e "não sabem o que estão fazendo". Fossem legisladores, cobrariam comanda daqueles que adentrassem ao colégio eleitoral.

Como disse, o recado hoje é curto: se a única coisa que tem a dizer sobre a Copa é que o verdadeiro patriotismo está em outubro, que enquanto me roubam eu grito gol e que a política do pão e circo está nas quatro linhas dos estádios superfaturados, você não é consciente, não é articulado, tampouco engajado politicamente. Você só é chato mesmo.

Abraços,
Murilo

Um comentário:

  1. Esse é o povão que reivindica educação e depreda biblioteca e cinema de rua?

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