quinta-feira, 28 de abril de 2016

Para jamais esquecer!

 Apesar da impunidade, o massacre de 29 de abril de 2015 continua vivo na memória de servidores, educadores e de todos aqueles que defendem a democracia no Brasil

por OSVALDO RODRIGUES JUNIOR

Massacre dos professores e servidores em Curitiba-PR
Fonte: veja.abril.com.br


Peter Burke, historiador inglês, afirma que “a função do historiador é lembrar a sociedade daquilo que ela quer esquecer”. Nesta direção, é nosso o papel manter vivas memórias de eventos traumáticos para que não caíam no esquecimento. É exatamente esse o caso do dia 29 de abril de 2015. 

Era um dia como outro qualquer na capital paranaense, não fosse a greve de servidores e professores estaduais que nas suas duas paralisações já durava mais de um mês. Nesse dia, o projeto de mudanças na previdência, enviado pelo governador Beto Richa seria votado na Assembleia Legislativa do Paraná. Por este motivo, foi marcada uma manifestação dos grevistas em frente a ALEP. 

O que ninguém esperava é que o 30 de agosto de 1988, data em que o então governador Álvaro Dias ordenou o uso de força policial contra os professores em greve no Estado, atirando a cavalaria em cima dos grevistas, fosse se repetir de maneira ainda mais violenta. Karl Marx dizia que “a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”. Neste caso, podemos afirmar que ela se repetiu novamente como tragédia.

Beto Richa, governador do Estado e Fernando Francischini, então secretário de Segurança Pública ordenaram o uso da força policial contra os grevistas e promoveram o maior massacre contra servidores públicos da história do país. Foram aproximadamente 2 horas de uma violência desproporcional que deixou mais de 200 civis feridos.


Professor ferido.
Foto: Maurilio Cheli / Fonte: www.brasileiros.com.br


No mês anterior ao massacre, em levantamento do Paraná Pesquisas realizado na manifestação contra o governo Dilma na cidade de Curitiba-PR, 45% dos manifestantes se posicionaram favoráveis a “intervenção militar”, o que significa dizer que quase metade deles era a favor do retorno da Ditadura Militar que assombrou o país por 21 anos. Daí a compreensão de que em uma sociedade que naturaliza a violência e concorda com regimes de exceção, atirar cavalos, bombas, cachorros e balas de borracha em professores e servidores seja considerado por muitos um ato trivial.

Resultado dessa complacência de muitos setores da sociedade, quase um ano depois, a Justiça Militar pediu arquivamento do processo que apurava os excessos policiais e apesar da discordância do Ministério Público do Paraná, até hoje, todos os responsáveis pelo massacre permanecem impunes, dentre eles o maior responsável, o governador Beto Richa. 

Apesar do esforço pela impunidade e pelo esquecimento, artistas, jornalistas independentes, servidores, professores e historiadores tem trabalhado para manter vivas as memórias do horror vivido naquele 29 de abril. Um cinegrafista da produtora independente Cine Monstro criou o vídeo Nunca esqueça, com imagens do horror vivido pelos manifestantes. Professoras da Universidade Federal organizaram o livro Um registro do 29 de abril de 2015: para não esquecer que conta com textos, imagens, depoimentos de professores, manchetes e títulos de jornais sobre o massacre. 

Concluindo, de acordo com Jacques Le Goff, a história “deve esclarecer a memória e ajudá-la a retificar os seus erros”. Dessa forma, cabe a todos nós mantermos vivas experiências tirânicas como as do 29 de abril de 2015 para que elas não se repitam. Para jamais esquecer, a história e a memória são fundamentais. 

Um comentário:

  1. Murilo, tomara que esse registro, "Nunca esqueça", realmente cumpra o seu papel.Parabéns cara! Minha admiração e respeito!Abraços!

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