segunda-feira, 18 de abril de 2016

Os fins justificam os meios

Pelo impeachment vale defender a Ditadura e os torturadores militares e aplaudir Eduardo Cunha, acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas

por OSVALDO RODRIGUES JUNIOR




Após 3 dias e 2 noites de sessões na Câmara dos Deputados foi aprovado por 367 votos favoráveis e 137 contrários o prosseguimento do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff do PT. O processo segue agora para o Senado que deverá votar pela admissibilidade, o que provocará o afastamento temporário da presidente. Em seguida, em nova votação o Senado deve decidir pelo afastamento definitivo, sendo necessários 2/3 dos votos válidos. 

No século 16, Nicolau Maquiavel, historiador, filósofo, dramaturgo, diplomata e cientista político italiano do Renascimento escreveu O príncipe. Obra-prima da ciência política moderna, apresenta um panorama da política como ela “realmente era” e não como “deveria ser”. O objetivo da política é o poder, e para isso o príncipe busca o poder e todos os meios serão considerados válidos para isto. Maquiavel inclusive afirma que: em política, os aliados de hoje são os inimigos de amanhã. Escrita há mais de 500 anos, esta obra nos ajuda a compreender o processo de impeachment em curso no Brasil.

Em primeiro lugar, a afirmativa que o fim da política é o poder parece cada dia mais clara em nosso país. Enquanto o governo tenta se segurar nos programas sociais promovidos pelos governos petistas nos últimos 13 anos e parece não ter um projeto ou mesmo forças para sair da crise política em que se colocou, a oposição apresenta total ausência de um projeto de país. Para eles, o que está em jogo é a possibilidade de (re)assumir o poder por via indireta, já que o candidato a sucessão, Michel Temer, não ultrapassa 2% das intenções de voto em uma possível eleição direta. 

Em segundo, a ideia de que os aliados de hoje são os inimigos de amanhã parece exemplificar de maneira perfeita a coalização de partidos favoráveis ao impeachment. A exceção do PSDB e do DEM, oposição ao governo federal desde a chegada de Lula a presidência, todos os demais partidos faziam parte da base aliada até pelo menos o mês de março de 2016. Sob a defesa da governabilidade, Lula e Dilma assumiram alianças espúrias com esses partidos oportunistas que sem nenhuma afinidade programática, a não ser com os cargos e os benefícios de estar no poder, agora os apunhalaram pelas costas em um jogo de poder que faria inveja aos Medicis da Florença de Maquiavel. 

Em terceiro e último, tanto a oposição, quanto a opinião pública parecem convergir na defesa da máxima de que “os fins justificam os meios”, frase que nunca foi dita por Maquiavel, e que na verdade deriva das inúmeras interpretações e apropriações da sua obra. 

Plenário lotado na votação da continuidade do processo de impeachment da presidente Dilma na Câmara (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil) 

Nesta direção, para conseguir o impeachment da presidente Dilma vale aplaudir a família Bolsonaro que em ato de desrespeito a democracia utilizou o espaço nos microfones para saudar a Ditadura Civil-Militar e mesmo para homenagear o Coronel Brilhante Ulstra, torturador de centenas de pessoas, incluindo a presidente Dilma. 

Vale também aplaudir Paulo Maluf, conhecido pelo bordão “rouba mas faz”, que há poucos dias fazia parte da lista de procurados da Interpol, política internacional, por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Também ovacionar o deputado Silvio Torres que afirmou votar por São Paulo, estado há 20 anos governado por políticos honestos.

Vale ainda aplaudir uma centena de deputados que no momento máximo do processo justificaram seus votos pela família, filhos, netos, fundamentos do cristianismo, projeto de troca de sexo das crianças nas escolas, pelo fim dos petroleiros, pelos moradores de rua que moram na rua, pela BR 429, pelo povo com nome no SPC e pela República de Curitiba, tudo, menos pelas tais “pedaladas fiscais” que sustentam o relatório apresentado pelo deputado Jovair Arantes. 

Vale por fim, não se importar com o fato de o deputado Eduardo Cunha, acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas presidir a sessão do alto da sua legitimidade moral e ética. Cunha é réu da Operação Lava Jato e teve a denúncia de corrupção acatada por unanimidade pelo Supremo Tribunal Federal. Além disso, é acusado de ter movimentado R$ 52 milhões no esquema. Porém, neste momento, é tratado como “malvado favorito” ou mesmo como “bandido útil” e deve ganhar “anistia” na Comissão de Ética que julga a cassação do seu mandato.

Portanto amigos, o que está em jogo neste momento, não é o combate a corrupção, a Operação Lava Jato ou a moralização da política, é simplesmente a deposição da presidente Dilma Rousseff e a destruição do PT e para isso os fins parecem justificar os meios.

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