quarta-feira, 20 de abril de 2016

A espetacularização do fascismo e a naturalização do absurdo

por SANDRO CHAVES ROSSI



Desde a redemocratização do Brasil existem pessoas que ainda lamentam o fim da ditadura militar, pessoas que vão desde figuras públicas, até eleitores comuns. É bom deixar claro que isso não é exclusividade do Brasil, na América Latina inteira há inúmeras pessoas que pensam da mesma maneira, porém, somente aqui no Brasil o entusiasmo pela ditadura sempre se manteve tão forte.

Na contramão de países como Argentina, Uruguai e Chile, nossos país nunca pôs a limpo o período obscuro da ditadura militar, tampouco julgou os criminosos de seu tempo. Tais fatos contribuem para que a nossa jovem democracia ainda seja cada vez mais fragilizada. Quando não há entusiasmo pela democracia, nos tornamos passíveis de atitudes anti-democráticas que, por sua vez, respaldam nas instituições democráticas e no debate político, seja ele de qual âmbito for.

Essa é a questão, pelo menos uma delas: as instituições e os debates políticos devem se basear em parâmetros, esses parâmetros nada mais são do que a democracia e os direitos humanos. Quando violamos esses parâmetros, cerceamos as liberdades civis, o respeito e a dignidade. Não há maior exemplo disso do que o fato que ocorreu no último dia 17/04, na votação do impeachment na Câmara do Deputados, quando o deputado federal Jair Messias Bolsonaro (PSC-RJ) homenageou o coronel Brilhante Ulstra, responsável pela morte e tortura de inúmeras pessoas, inclusive da presidenta Dilma Rousseff, no período da ditadura militar. Pior que a "homenagem" foram as pessoas que ovacionaram tal discurso. Isso, meu caro leitor, tem nome e se chama 'fascismo'.

Um governo falido e impotente é suscetível, e muito, a críticas sim, não vamos explicar o óbvio, porém essas críticas devem ser sempre muito bem fundamentadas e debatidas para que não causem mais retrocesso do que já há. Aí aparece outra questão: o embasamento da crítica. Há setores da sociedade que vêm, há anos, distorcendo a realidade em prol de suas ideologias. Por exemplo, há um problema puramente racional quando se tem dados e relatos do retrocesso que foi a ditadura militar e mesmo assim ainda há pessoas os negam e, não contentes, ainda pedem a sua volta.

Alguns desses setores da sociedade ainda pregam a ideia de que o governo atual é composto por um partido de extrema esquerda que conspira contra a sociedade. Qualquer um que tenha uma base teórica razoável sobre política sabe que isso não passa de uma falácia, porém há muita gente que acredita nesse papo e acaba comprando essa ideia esdrúxula, um terreno perfeito que colabora para a propagação de ideologias sem embasamento racional, o que torna as pessoas passíveis ao absurdo - garanto que muitos já viram alguém defender algo inacreditável enquanto navegava pelas redes sociais. Pra ser mais específico, essas ideologias tornaram a política um assunto puramente econômico. Obviamente que medidas devem ser tomadas para que o país supere a crise econômica e retome o crescimento, o problema é que tais ideologias propõem qualquer detrimento social em prol do crescimento econômico, essa que é a grande preocupação. 

Para justificar o detrimento das conquistas sociais em prol da economia, tais ideologias pregam que as ciências humanas não passam de pseudo ciências e que são puramente "doutrinadoras", subestimam e ridicularizam inúmeros estudos feitos pelas ciências sociais, pela história, filosofia e direito. Além de distorcerem a realidade em outros países para usarem como exemplo a ser seguido no Brasil. Não importam as conquistas sociais garantidas nos últimos anos, são elas a culpadas pelo retrocesso econômico. A culpa da economia ir mal é de quem recebe bolsa do governo, de quem estuda em universidade pública, de quem usa o SUS ou de quem recebe um simples salário mínimo. 

Hoje, uma grande parcela de quem dita as pautas políticas do país compartilha dessas ideologias, que ,de tanto serem compartilhadas, foram aceitas e normalizadas por um parcela considerável da sociedade. Estão aplaudindo quem usa o ódio e o egoísmo como vertente política, quem usa a nossa indignação para se promover, quem se diz revolucionário por querer tirar os nossos direitos, quem pode simplesmente sair do país quando tudo por aqui der errado. Como diz aquela música do Engenheiros do Hawaii: o fascismo fascinante deixa gente ignorante fascinada.

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