quinta-feira, 5 de março de 2015

Todos por elas. Os desafios do feminismo no século XXI

por JESSICA LEME




Semana em que se comemora o dia Internacional da Mulher, hoje muito capitalizado pela indústria e propagandeado como mais um momento a se consumir... Mas ainda sim válido, com um histórico de luta pela igualdade de gênero e direitos das mulheres. 

Quando pensei em escrever sobre o dia 08 de março logo me veio a ideia óbvia, talvez, de refazer toda uma trajetória histórica social da presença (ou não) das mulheres no cenário histórico mundial e brasileiro. No instante seguinte percebi que a discussão sobre o “ser mulher” ainda é cheia de espinhos a serem vencidos mesmo na atualidade, e suas questões assinaladas no passado só nos dão o sentido de permanência dessas desigualdades. 

Duas falas comandaram a minha linha de pensamento para falar sobre feminismo, numa semana em que enxurradas de homenagens vazias, propagandas com mulheres belas e bem sucedidas enchem nossa televisão, rádio e internet, somente Ema Watson e Malala me pareceram esclarecer e trazer à tona a verdadeira tônica do feminismo no século XXI. 

É mais que sabido e rebatido anualmente a queima dos sutiãs, a Greve de Chicago, a liberdade sexual trazida com a pílula, o direito ao voto, o crescimento do número das mulheres com ensino superior no país entre outros ganhos da ala feminina, mas a questão trazida pelas duas jovens embaixadoras da ONU, Ema Watson comandando a campanha intitulada HeForShe (Eles por elas), e Malala, Nobel da Paz em 2014, representando o direito das meninas e mulheres a terem acesso à educação. 

Parafraseando o discurso de Ema Watson na Assembleia da ONU em setembro, a palavra feminismo tem sido carregada de preconceitos que acabam por levar uma discussão tão feminina quanto masculina para longe das sociedades atuais. Talvez tenhamos acreditado que a maior inserção das mulheres ocidentais num mundo que antes era somente dos homens generalizou a ideia de que todas as mulheres no mundo possuem os mesmos direitos. Isto está longe de ser a realidade. 

O feminismo teoricamente se aplicou à luta pela busca de igualdade de gênero, onde homens e mulheres poderiam exercer a mesma função e receber o mesmo salário para isso. Buscou colocar a mulher como sujeito ativo da sociedade indo muito além de sua predestinação ao casamento e a maternidade (ambos praticamente impostos pela sociedade patriarcal). 

Falar em feminismo, se autoproclamar feminista, leva a determinados preconceitos, como relacionar a feminista a mulheres que não se relacionam com homens, a mulheres mal resolvidas consigo mesmas, ou até se cogita que a mesma é uma luta sem sentido, visto que para a grande maioria da sociedade a mulher já ocupou todos os espaços sociais que o homem circunda. 

Foto: http://revistaogrito.ne10.uol.com.br/page/wp-content/uploads/2013/07/2013_time100_yousafzai.jpg
Para Malala, sobrevivente de um ataque do Talibã em 2012 no seu país de origem Paquistão, enquanto estava na escola, a morte de suas amigas e bem como a vida que lhe deu uma segunda chance tem muito a nos dizer sobre tantas mulheres e meninas pelo mundo afora que ainda são cerceadas de direitos básicos como a educação e saúde feminina. Vários motivos podem levar a esses entraves, guerras, religião, ditaduras... Mas todos tem o mesmo intuito, barrar a força da mulher, mantê-las subservientes ao homem. 

O último levantamento da ONU nos dá o verdadeiro panorama do por que o feminismo ainda é uma questão urgente, assim como Ema diz em seu discurso, ela que pode usufruir de todos os direitos que lhe permitem viver com dignidade, assim ela desejaria ver todas as mulheres e meninas. 

Dados do Fundo das Nações Unidas para as Mulheres: 

SAÚDE 

Apesar do aumento na proporção de mulheres que receberam assistência pré-natal, a África Subsaariana sozinha registrou 270 mil mortes maternas em 2005, isto é, metade das mortes maternas no mundo. (pág. 34-35) 

EDUCAÇÃO 

Em nível global, a taxa de meninas em idade escolar matriculadas na escola primária aumentou de 79 para 86% no período de 1999 a 2007. Mas na África Ocidental e Central existia uma das menores taxas do mundo, com menos de 60% das meninas em idade escolar, matriculadas na escola. (pág. 52-53) 

As meninas representam 54% das crianças em idade escolar fora da escola (58% em 1999). A proporção de meninas fora da escola é maior nos Estados Árabes: 61%. (pág.54) 

TRABALHO 

Os salários das mulheres representam entre 70 e 90% dos salários de seus colegas masculinos. (pág.97) 

“O emprego vulnerável” – trabalho por conta própria e contribuição para o trabalho familiar – é predominante na África e na Ásia, especialmente entre as mulheres. Esses trabalhadores sofrem com a precariedade e falta de redes de segurança. (pág.87) 

As mulheres ainda são raramente empregadas em trabalhos com status, poder e autoridade, e em ocupações tradicionalmente masculinas. (pág. 90-91) 

A maternidade continua a ser uma fonte de discriminação no trabalho. Mesmo com a legislação protegendo a maternidade, muitas mulheres grávidas ainda perdem seus empregos, e processos nesta área são comuns nos tribunais. (pág. 104) 

PODER E TOMADA DE DECISÃO 

Chefes de Estado ou de Governo são cargos que ainda são quase que “imperceptíveis” para as mulheres. Em 2009, apenas 14 mulheres no mundo ocupavam estas posições. (pág.117) 

Em apenas 23 países as mulheres compõem uma massa crítica – mais de 30% – na câmara baixa de seu Parlamento nacional. (pág. 124) 

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER 

As mulheres são submetidas a diversas formas de violência: física, sexual, psicológica e econômica – tanto dentro como fora de suas casas. (Pág. 130) 

Taxas de mulheres vítimas de violência física pelo menos uma vez na vida variam 12% a mais de 59%, dependendo de onde vivem. (pág.131) 

A mutilação genital feminina mostra uma ligeira diminuição na África. (pág. 135-136) 

MEIO AMBIENTE 

As mulheres nas zonas rurais da África Subsaariana são geralmente responsáveis pela coleta de água. Uma viagem de ida e volta para a fonte de água leva em média uma hora e 22 minutos em áreas rurais na Somália e uma hora e 11 minutos em áreas rurais na Mauritânia. (pág.144) 

A maioria das famílias na África Subsaariana e no Sul e Sudeste da Ásia utiliza combustíveis sólidos para cozinhar ou fogões tradicionais sem chaminé, afetando desproporcionalmente a saúde das mulheres. (pág. 147-150) 

POBREZA 

As famílias de mães solteiras com filhos pequenos têm mais probabilidade de serem pobres do que os pais monoparentais com filhos jovens. (pág.161-163) 

As leis existentes limitam o acesso das mulheres à terra e outros tipos de propriedade, na maioria dos países da África e cerca de metade dos países da Ásia. Elementos da desigualdade de gênero no que diz respeito aos direitos de herança foram identificados em 45 dos 48 países africanos analisados e em 25 dos 42 países asiáticos. (pág.169) 


A nova proposta de campanha lançada pela ONU para as mulheres em 2014, onde se chama a comunidade masculina a se unir contra as várias formas de violência à mulher, mostra qual o caminho o feminismo pretende seguir a partir de agora, ou a luta feminista. Este caminho é a união. 

No mundo atual as mulheres são alvejadas diariamente com várias ações nocivas à sua autoestima, identidade, tem sua imagem feminina relacionada a diversos produtos lhes renegando o papel de objeto e, mais, em grande parte do mundo o corpo feminino é sexualizado ou então tem seu corpo mutilado para que a mulher não sinta prazer algum em suas relações sexuais. 

Meninas são obrigadas a se casar em condições de escravas, são os chamados “casamentos servis”. Ano passado uma campanha Norueguesa chamou a atenção da comunidade internacional ao noticiar o casamento de uma bela menina branca de olhos azuis de apenas 12 anos com um homem de 37 anos. Todo o país se escandalizou e antes que atitudes fossem tomadas a campanha esclareceu que tudo não passava de uma mentira para chamar a atenção à realidade das meninas no Oriente Médio e África que são obrigadas a se casar nessas circunstâncias. 

No Brasil dentre os números alarmantes de violência sexual, doméstica e de uma sociedade extremamente machista (basta lembrarmo-nos das pesquisas do ano passado sobre como o brasileiro entende o estupro), caminhamos na sanção de uma nova lei a fim de proteger as mulheres vítimas de violência.O crime chamado de feminicídio (assassinato de mulheres) passa a ser considerado hediondo, dependendo apenas da sanção da presidente Dilma. A intenção é que as punições e as medidas preventivas se tornem mais efetivas, assim como a lei Maria da Penha trouxe uma diminuição de 10% dos casos de violência doméstica, pretende-se intimidar os agressores de forma mais eficaz. 

Links sobre esse texto: 

ONU para mulheres: http://www.unifem.org.br/







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