terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Uma geração de idiotas

por MURILO CLETO

Foto: http://www.walterbatista.com.br/2014/09/melhor-impossivel-danilo-gentili-vem-ai.html


Que as redes sociais gestaram a maior – ou pelo menos mais organizada – geração de idiotas de todos os tempos todo mundo sabe. O que se ignora, tragicamente, são as condições desta gestação. Na América, não só a do Sul, pois há muitos republicanos que também pensam assim, é crescente a sensação de que a esquerda está no poder e acabou por cooptar instituições vinculadas à produção e à difusão de saberes.

Isso ajuda a explicar tanto a paranoia, amplamente reproduzida por grupos de oposição no Brasil, como Movimento Brasil Livre, Revoltados On Line e similares, de que os maiores jornais do país são porta-vozes do governo petista, quanto a de que o marxismo dominou as universidades.


E há muita coisa de nociva nisso, sobretudo no que diz respeito à circulação destes novos saberes propostos por um pensamento que se vende como crítico, como contra o senso comum, mas que significa, na verdade, apenas uma reprodução barata de velhos clichês do pensamento conservador.

Engana-se quem pensa que a maior oposição à esquerda está na sua política econômica. Quer dizer, até pode ser. Mas não em tempos de redes sociais. Hoje, a maior ocupação da direita neocon é no que diz respeito a valores. E não é de se estranhar que partidos historicamente vinculados ao liberalismo na moralidade e na economia, como o PSDB, tenham se alinhado ao que existe de pior no cenário contemporâneo. Porque é discurso fácil, reproduz como metástase e permite identificação mais clara com o eleitorado avesso ao “desvirtuamento de valores” promovido pela “esquerda”.

“Esquerda”, entre aspas, porque ela tem sido muito mais uma imagem do que uma realidade empírica no século XXI.

Veja, onde está concentrado hoje o “pensamento crítico” desta direita aqui? Em temas fundamentalmente morais. E aonde quer chegar esse pensamento que, insisto, se vende como crítico? Onde ele estava antes de a “esquerda” chegar ao poder. Então ele é contra a descriminalização do aborto porque é “a favor da vida” – olha que bonzinho. Ele é contra as cotas porque é “a favor da igualdade perante a lei” – cita até Morgan Freeman pra falar em “consciência humana” daí. Ele defende a legitimidade da violência simbólica porque é “a favor da liberdade de expressão” – e, se precisar, sabe de cor até a 1ª emenda da constituição norte-americana.

E o que o idiota faz? Sai virando estrela se achando gênio.

Há algo de crítico nisso? Claro que não, rigorosamente nada. Mas vende que é uma beleza. Só não digam que eu não avisei.

Abraços, 
Murilo

(Texto originalmente publicado no Facebook do autor)

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