quinta-feira, 26 de março de 2015

A cruzada da intolerância

O estatuto da família, o beijo gay e a Frente Parlamentar Evangélica

por OSVALDO RODRIGUES JUNIOR

Fernanda Montenegro e Nathália Timberg protagonizaram beijo no primeiro capítulo da trama Foto: Reprodução / Rede Globo

Em 2013, o deputado Anderson Ferreira do Partido da República - PR de Pernambuco, integrante da bancada evangélica e relator do projeto conhecido como “cura gay”, propôs um novo projeto de lei, o estatuto da família. O Estatuto propõe a redução de direitos hoje concedidos aos homossexuais pelo Poder Judiciário, como a união homoafetiva e a adoção. Além disso, define família como a união entre homem e mulher, por meio de casamento, união estável ou comunidade formada pelos pais e seus descendentes.

O PL deu origem a uma enquete no site do Câmara dos Deputados, que bateu recordes, sendo acessada por mais de 5 milhões de pessoas. Até o presente momento 53,74% dos que responderam à enquete são a favor da definição de família enquanto núcleo gerado da união entre homem e mulher. 

Pautado no princípio bíblico de que Deus 'os fez homem e mulher' e 'por esta razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne', o PL propõe a institucionalização da moral cristã em um país constitucionalmente laico, rejeitando os estudos de sociologia da família. Para a Sociologia, família é um grupo de pessoas unidas por laços de parentesco de dois tipos: vínculos por afinidade, como o casal e consanguíneos, como a filiação entre pais e filhos. Partido deste conceito, nada impede de considerarmos um casal homossexual com filhos adotivos como uma família, tendo em vista que estes preenchem os dois requisitos sociológicos: afinidade e filiação entre pais e filhos.

No último dia 16, Fernanda Montenegro e Nathália Timberg protagonizaram um beijo gay na estreia da novela Babilônia, da Rede Globo. Tal fato causou a revolta da Frente Parlamentar Evangélica - FPE, que divulgou uma nota de repúdio no dia 17. Na nota, a FPE afirma que a Rede Globo afronta os cristãos querendo impor “outras formas de amar” como forma de ataque à “família natural”. Os deputados denominam de “estupro moral imposto pela mídia liberal” e recomendam o boicote a novela e aos patrocinadores dela. Marco Feliciano, deputado federal pelo Partido Social Cristão – PSC e membro da FPE foi além ao relacionar o nome da novela, Babilônia, ao apocalipse, utilizando passagens bíblicas no Facebook. 

Fernanda Montenegro respondeu afirmando que o boicote funciona como uma “caça às bruxas”. Nesta direção, a atriz apontou a radicalização dos pensamentos e questionou a formação de exércitos, fazendo uma correlação aos exércitos evangélicos, como o gladiadores do altar da Igreja Universal do Reino de Deus. E finalizou afirmando que os “conservadores vão ter que nos aturar”.

O desengavetamento do Estatuto da Família e a reação da bancada religiosa ao beijo gay exibido pela Rede Globo expressam uma faceta do avanço do conservadorismo no Brasil representada pela Frente Parlamentar Evangélica. Ao propor a não aceitação da diversidade, a bancada evangélica promove uma verdadeira cruzada da intolerância e representa um risco real a democracia e ao Estado laico. 

Abraços,
Osvaldo.

Um comentário:

  1. A globo tá catando cavaco por Ibope, se antes a ala católica conservadora inibia qualquer dimensão de homossexualidade, com a record pegando o filão dos evangélicos, parece que a globo no desespero quer dos homossexuais, pois, entre eles não necessariamente há um antiglobo, tanto que, depois desse beijo, muitos programas passaram a compor quadros com referência ao homossexualismo. Mas quem tem memória vai se lembrar do quanto essa emissora é preconceituosa e racista e só está apelando para isso, não num sentido genuíno sobre o tema e para o público, mas apenas por sobrevivência estratégica. Primeiro, sua linha conservadora católica está frustrada com o novo papa, está emparedada com uma outra mentalidade religiosa que tem aprovação de tantos outros católicos quanto outros não fiéis, e nisso compromete a globo para uma escolha, talvez tentando convencer seu publico católico mais ortodoxo para uma tendência futura, mas que emergencialmente precisa de ibope no agora, pois poderá apoiar o homossexualismo visto que em parte não necessariamente ele é de esquerda ou antiglobo; segundo, estratégia de público e ibope, pois se nem todo homossexual é politicamente engajado de esquerda, por outro é uma tendência que a record não fará tanta questão de fisgar, ainda mais com o nascente fascismo evangélico, pelo menos agora visível, pois já detinha uma mentalidade presente em qualquer culto,(só usar a memória e lembrar dos hinos religiosos militarizados e as camisetas militares com o logo soldado de Cristo)... infelizmente quem perde nisso é o próprio público, até mesmo homossexual, pois falsamente e visando outros interesses que a globo está fazendo isso. Outro interesse visível é ela adotar programas para trazer para dentro de si a própria crítica, fazer uma cortina de fumaça, ou embaralhar os significados delas, quando em muito também são sinônimos de trazer tendências pelo humor, pois assim passa desapercebido enquanto se naturaliza, ao seu modo, mas, entre isso, seguem a briga entre as emissoras que, por sinal, estão jogando públicos contra públicos, exemplo é Tá no ar: a Tv na Tv com Barracos da Bíblia e a bíblia segundo Rogéria. Com a globo (coloco minúsculo mesmo) o homossexualismo só tem um ganho aparente e nada benéfico, é apenas uma emissora que, ao seu modo, tem que se submeter agora ao gosto do público ou de públicos para sua sobrevivência mas, ainda, querendo dar seu tom, como sempre quis e que as coisas sejam segundo suas representações (exceto as favelas, pois elas em nada condizem com o que se mostra em suas novelas e o que ela deseja para eles...)

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