terça-feira, 17 de março de 2015

Os “salvadores da pátria”

Desinformação, ódio e inconsciência

por LUIS FELIPE MACHADO DE GENARO


O dia 15 de março foi um dia histórico. Não há dúvidas quanto a isso. Infelizmente, nos registros e anais da História, não será lembrado como um momento onde os problemas do país pareciam mais próximos de serem solucionados. Muito menos será marcado como um dia onde a sociedade brasileira acordou de um sono profundo, mais consciente e crítica a respeito de seus problemas. 

Os gritos “Fora Dilma” e “Fora PT” nas avenidas dos grandes centros, muito além de um antipetismo por vezes compreensivo, agrega outros sentidos e conotações. Eles são a expressão de setores da sociedade que arrastam há 500 anos a infame herança da Casa-Grande e os grilhões da mentalidade dominante. 

No dia 15, muito além do descontentamento com o governo Dilma Rousseff, a gritante despolitização e inconsciência nacional colocaram, nas palavras do jornalista Mino Carta, a cretinização em marcha. A maioria crê, por exemplo, que o Partido dos Trabalhadores carrega a marca de um socialismo soviético ou cubano, ou que viveríamos em uma “ditadura de esquerda”. Oras, estariam todos marchando, alegres e felizes, caso isso fosse real? Não estariam todos trabalhando forçadamente no gulag dos trópicos? Quiçá um paredón... 

A gestação desse pensamento retrógrado se inicia nos veículos de comunicação, principalmente nos telejornais e blogs. O raivoso Reinaldo Azevedo, colunista da Veja; Rachel Sheherazade, âncora do jornal do SBT; Arnaldo Jabor, comentarista do jornal da Globo; e José Luis Datena, com seu Brasil Urgente, são exemplos caricatos. Sujeitos que, entre discursos reacionários e preconceituosos, maquiados de uma pseudo-superioridade intelectual, manipulam milhões. 


A quantidade de faixas pedindo a “volta dos militares”, diga-se de passagem, era lamentável. Muito além de um conservadorismo intrínseco, a burrice mais clara e a ignorância mais atordoante, ainda se acredita que durante a ditadura deflagrada em março de 1964, “não havia corrupção” e que tudo estava “em ordem”. Lembremos que à época, tal ordem era imposta com lágrimas e sangue. 

Hoje, a desinformação rola solta. Culpa, diria, do próprio PT. Lula só começou a falar de democratização e regulamentação da mídia quando se apartou da presidência. Se o projeto já existia em mentes petistas, por quais razões não levantou sua bandeira desde o início? 

Aos que marcharam, o programa Bolsa Família, por exemplo, que visa redistribuir uma renda há 500 anos concentrada nas mãos de poucos, é um dos principais “atrasos do país”. As cotas raciais são “inúteis” e é preciso privatizar (dar aos EUA) a Petrobrás. Reflito se isso seria apenas desinformação. 

O que isso significa se não falta de aulas de história, sociologia e filosofia? Falta de interpretação e compreensão? Não precisamos nos aprofundar muito, já que um simples livro didático resolveria o problema. 

Recordo que durante as Jornadas de Junho de 2013, que entre semelhanças e diferenças se afastam da marcha de domingo, a imprensa nativa acusava as manifestações de “ineficazes”, “protestos sem causa”, já que seus alvos variavam. De fato, as Jornadas representaram o levante da nova direita e renovação da esquerda, ambas com múltiplas pautas. O que significa, no entanto, sair às ruas contra a “corrupção”? Há algo mais pulverizado que isso? A Globo, no entanto, sequer questionou as origens da marcha – abraçou-a. 

Sabem os salvadores da pátria que a corrupção no país é sistêmica, estrutural e histórica? Sabem eles que a “fundação” do feudo-Brasil foi baseada na exploração, escravidão e estratificação social? Ou realmente acreditam que a corrupção se iniciou apenas com a subida de Lula ao poder? 

O que existe na verdade, e isso poucos querem admitir, é a repulsa pelas classes baixas, desfavorecidas e achincalhadas deste país – classes que o PT favoreceu e estendeu a mão, mas que hoje o governo Dilma dá de ombros. 


O município de Itararé não poderia deixar de marcar presença. O que mais resta de uma comunidade interiorana onde setores de “influência” se dividem entre fofoqueiros e falsos jornalistas, desocupados e ladrões, enquanto uma minoria tenta esclarecer, conscientizar e mobilizar itarareenses, do centro às periferias? Não muita coisa. 

Hoje, em todo o Brasil, reinam o ódio e a desinformação. A esquerda, dividida, parece desorientada. Enquanto isso, eles dominam tudo e todos de forma rápida. Sobre aqueles que incitam e sustentam tamanha canalhice, o historiador José Honório Rodrigues comentou em sua obra Conciliação e Reforma no Brasil: “A minoria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogressista, antinacional e não contemporânea”. 

As inúmeras fotos, cartazes e bandeiras do dia 15 evidenciaram que centenas de milhares de brasileiros também o são. Entre penalaços no Morumbi, camisetas da CBF e o autismo de Brasília, que Marx nos ajude... 

*As charges são de Vitor Teixeira (https://www.facebook.com/vitortegom).

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