Qual é o mal que eles nos fazem
por LUCAS SANTOS*
A indústria de gêneros alimentícios pode ser tomada como uma das de maior importância dentro de um panorama não apenas nacional, mas global, visto que todos os indivíduos precisam comer e beber. Pouco se discute, porém, a respeito do que está chegando às mesas, dado o distanciamento existente entre o produto e o consumidor, afinal o último não tem relação nenhuma com os processos pelos quais passam o primeiro antes de sua chegada às prateleiras dos supermercados.
Hoje nos deparamos com um quadro de produções em larga escala de produtos diversos, propiciado por uma série de desenvolvimentos atingidos a partir das revoluções industriais, o que em tese poderia acabar com diversos problemas relacionados à alimentação, visto que, quando se produz muito, o preço tende a cair, o que possibilitaria o acesso de mais pessoas a esses bens de consumo. O sistema capitalista industrial, porém, não tem como fator motivador a questão social e sim a geração de capital, a qualquer custo que não traga prejuízo aos detentores de meios de produção.
O que acontece, então, é algo naturalizado dentro do sistema, buscam-se formas de produzir que sejam mais baratas, o que no caso específico significa inicialmente o corte da mão-de-obra e o desenvolvimento de meios para se produzir mais do que a capacidade física do território sem a necessidade de anexação de mais áreas para produção.
A Segunda Grande Guerra trouxe, a partir do ideal de eugenia alemão, a possibilidade de desenvolvimento de pesquisas de grande porte ligadas às ciências biológicas, principalmente no que diz respeito à genética.
Se aproveitando dessas novas possibilidades, não apenas o setor acadêmico pôde atingir novos patamares, mas também o industrial e, podemos citar aqui, o de gêneros alimentícios como maior beneficiado, pois a partir deste contexto surge a Monsanto, empresa que durante os conflitos armados tinha como responsabilidade o desenvolvimento de armamento e em um período posterior se tornou responsável pelo desenvolvimento de “otimizadores de produção”, como adubos químicos e pesticidas, mas não só por isso, pois também pelo investimento em pesquisas para criação dos chamados transgênicos.
O transgênico consiste basicamente em uma planta que tem suas estruturas genéticas alteradas para que, por exemplo, um pé de milho, que poderia em sua forma natural produzir de duas a três espigas, passe a poder produzir até seis. O preço que se paga por essa maravilha da ciência contemporânea, porém, é pouco comentado.
Quando uma planta tem sua estrutura genética alterada ela perde parte de sua composição natural que contém, por sua vez, os chamados aminoácidos essenciais, estes responsáveis pela manutenção do funcionamento de nosso metabolismo, ou seja, estes são nossos verdadeiros alimentos, visto que a massa que ingerimos ao comer passa por processos bioquímicos que convertem estes aminoácidos, além das fibras, vitaminas, minerais e proteínas, em energia, logo, ao consumirmos um produto transgênico, estamos ingerindo algo que passará por todo o processo metabólico e terá sua maior parte descartada, o que pode, em longo prazo, gerar a carência de algum componente acarretando doenças ligadas à alimentação.
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) é abertamente contrário ao desenvolvimento e produção dos transgênicos, não apenas pelos fatores já citados, mas também por uma causa sócio-trabalhista, afinal o transgênico foi pensado para a produção em larga escala, o que implica na manutenção de estruturas como o latifúndio e a monocultura, que trazem consigo prejuízos já conhecidos por nós, visto que desde o período colonial estas mesmas estruturas organizam nossa política de produção.
Podemos notar, porém, o abafamento desses fatores, inclusive pela grande mídia que, mesmo tendo concessões do governo, que implicam em tese na prestação de serviço social, insiste, por jogo de interesses, em demonstrar essa produção como algo positivo. O que se exemplifica pelo episódio, onde o âncora e redator número um do Brasil, atuante na esfera prateada, apresentava como um crime a iniciativa do MST de acabar com algumas mudas de pinus transgênico, apontando os anos de pesquisa incansável como único argumento.
O que busco aqui é apenas a realização de uma reflexão, para que não se taxe um movimento com causas válidas como conspiratório.
* Lucas Santos é acadêmico do 5º semestre de História nas Faculdades Integradas de Itararé.
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