por SANDRO CHAVES ROSSI
Convenhamos que 2015 está sendo um ano insuportável, falo particularmente no que diz respeito ao cenário político nacional. A política está em todos os lugares, desde a televisão com seus tradicionais noticiários, nos movimentos sociais que acontecem nas ruas ou até mesmo naquele post da sua tia reclamando dos petralhas que estão acabando com o Brasil. Não há problema nenhum em se discutir política. O grande problema é como ela está sendo discutida, e isso vem causando uma certa dor de cabeça pra quem é um pouco mais esclarecido sobre alguns assuntos e inevitavelmente acaba caindo no Fla-Flu político. É disso que eu venho falar hoje, ou melhor, desabafar.
Esses dias atrás, eu estava em um dos corredores da faculdade vendo alguns cartazes de um grupo feminista que falavam de violência doméstica. Os cartazes era bem didáticos e mostravam dados da violência doméstica no Brasil e medidas que deveriam ser tomadas caso alguém sofresse tais atos. Um grande conhecido meu chegou do meu lado e disse "agora é moda essa palhaçada de feminismo, né!? Daqui a pouco todas as mulheres vão começar a seguir essa palhaçada e vão ficar com o sovaco peludo por aí". No primeiro instante eu fiquei furioso, porém fui paciente e expliquei pra ele que não era assim que a coisa funcionava. No mesmo dia eu mandei dois textos daqui do blog para ele no Facebook, "Todos por elas. Os desafios do feminismo no século XXI", da Jessica Leme, e "A Querela do Feminismo", da Letícia Santos. Ele visualizou e só me respondeu uns dois dias depois com a seguinte mensagem: "entendo a sua visão esquerdista, mas você está equivocado" e logo me mandou uma imagem de uma militar ao lado de uma ativista da FEMEN com a seguinte legenda: "essa é uma mulher lutando pelos seus direitos, ao lado uma vagabunda com os peitos de fora" - pouparei vocês dessa imagem imbecil. Mesmo com toda a didática das autoras, ele preferiu ignorar e continuar com o pensamento retrógrado de que feminismo é algo ruim, sem nem ao menos saber ao certo o motivo dele achar isso.
Algo semelhante aconteceu em uma pizzaria semana passada enquanto eu esperava no balcão o meu pedido chegar. A televisão estava ligada em um noticiário, quando surgiu uma matéria sobre uma invasão do MST. Um dos clientes que estava no balcão comigo logo esbravejou: "lá vem esses filhotes do PT querendo arrancar as terras dos cidadãos de bem, esses aí tem que expulsar na bala, reforma agrária é coisa de vagabundo". Preferi estragar minha noite e comprei a discussão, falei para o rapaz que a reforma agrária era uma política séria, eficaz e que estava presente na nossa constituição, foi o suficiente pra ele me chamar de petista e falar que a minha "raça" adora passar a mão na cabeça de um vagabundo. Novamente fui paciente e tentei ser o mais didático possível, falei que eu não era petista e que, assim como ele, eu também não concordava com muita coisa no governo federal e logo expliquei a importância da reforma agrária, os perigos que um latifúndio pode trazer e falei da bancada ruralista, que usa sua influência para conseguir vantagens dentro do governo para fortalecer seu monopólio agrário. Infelizmente não foi o suficiente, o rapaz disse que esse tipo de política "sem vergonha" não existia nos países desenvolvidos, então retruquei dizendo que os Estados Unidos eram e são o país que mais faz reforma agrária no mundo, desde a criação da lei da reforma agrária em 1862, feita por Abraham Lincoln. O cliente pegou o seu pedido, foi embora e ainda disse "petista acha que só porque uma coisa funcionou lá fora, vai funcionar aqui também, eu tenho dó dessa raça".
Eu tenho um amigo que manda quase toda semana alguma corrente anti-PT no whatsapp. A última delas foi sobre o pedido de impeachment das manifestações do dia 15 de março. Dessa vez eu não falei nada, preferi não gastar energia para falar de algo com alguém que acredita em correntes virtuais, porém um outro amigo meu, que também está nesse grupo, puxou esse assunto na roda de conversa enquanto tomávamos uma cerveja num boteco aqui por perto. Para ele, o aumento do dólar e da gasolina eram motivos suficientes para pedir impeachment da presidenta e que, se o Fernando Collor caiu em 1992, ela também deveria cair. Entendi a indignação do meu amigo, mas fui contra a sua opinião e expliquei que era muito diferente pedir impeachment por um péssimo governo ao invés de um motivo concreto, como foi o caso do Collor em que houve comprovação de atos de corrupção feitos por ele. Eis que meu amigo diz "Sandrão, você anda muito comunista". Fiquei sem reação e pedi para ele explicar o motivo de ter dito aquilo. Ele disse que me chamou de comunista porque eu estava defendendo muito o PT e que era desnecessário fazer isso. Fiquei tão indignado que não quis falar mais nada, era meu amigo, não comprei a briga. Mudei de assunto.
Posso citar mais algumas vezes em que algo parecido aconteceu, porém vou ficar por aqui. Por que? Porque eu sei que você que está lendo esse texto já deve ter passado por isso. Se ainda não passou, vai passar. Estamos falando de pessoas que te chamam de "esquerdista", "petista" e "comunista" sem ao menos saber se você realmente é isso ou até mesmo o que esses termos significam. Estamos numa turbulência política em que muitos se negam a ver o que está certo ou errado. Claro, não sou dono da verdade, estou muito longe disso, porém quando se lê bastante sobre determinados assuntos e se tem argumentos para afirmá-los, se espera que eles sejam rebatidos com novos argumentos e não com acusações rasas. Em pleno 2015, mais vale a pena ser um comunista esclarecido do que um cidadão de bem que passa raiva toda vez que liga a televisão.
"sem ao menos saber se você realmente é isso"..."mais vale a pena ser um comunista esclarecido"
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