terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Vamos falar sobre aborto

por MARIANA BRUNO PINTO*


Eduardo Cunha, atual presidente da câmara dos deputados, fez uma declaração preocupante na última semana. Afirmou que a votação sobre o aborto nesse país será feita apenas sobre o seu cadáver.

No Brasil, ocorrem aproximadamente 1,4 milhões de abortos clandestinos. Os métodos de abortamento são toscos e insalubres e são a causa de 15% das mortes maternas e na maioria dos casos essas mulheres pertencem às classes sociais menos favorecidas. 

Ainda no ano de 2014 o portal G1 noticiou uma mega operação para desmontar uma rede clandestina de abortos em uma zona nobre da cidade do Rio de Janeiro, nessas clinicas teriam ocorrido uma série de abortamentos assistidos por médicos muito bem remunerados. Uma mulher que desejasse interromper uma gestação assistida por um médico deveria desembolsar cerca 7 mil reais para realizar o procedimento.

O aborto seguro, embora ilegal, existe no Brasil, contudo ele é reservado a mulheres pertencentes aos setores privilegiados da sociedade. Mulheres ricas abortam enquanto mulheres pobres morrem nas periferias através de procedimentos rudimentares.

A declaração de um dos chefes do legislativo é aterradora. Enquanto os movimentos sociais bradam pelo direito de escolha da mulher e em defesa da saúde e da vida delas observamos o retrocesso dos nossos representantes políticos em uma questão de saúde publica.

Alguns representantes de doutrinas religiosas e setores conservadores da sociedade apontam as feministas e demais defensoras do aborto como assassinas. Dizem que nós, as feministas, somos pecadoras, imorais, dizem que matamos crianças inocentes. 

Defender a legalização do aborto não significa torná-lo banal. Os países que tornaram o aborto legal, como Uruguai, contam com uma equipe médica composta por psicólogos, assistentes sociais, obstetras. O resultado é a diminuição do numero de abortos, mas, o melhor, o risco de morte, é quase nulo. 

Mulheres não merecem morrer por não sentirem-se preparadas para serem mães, as gestações não deve ser uma imposição biológica, mas sim uma escolha. Nenhuma mulher será obrigada a abortar se suas crenças não permitem ou se pretende levar à gravidez adiante, mas ela deve ter o direito de escolher sem julgamentos, sem estigmas. 

O aborto deve ser debatido. Para que os milhares de mulheres possam escolher.

Vamos falar sobre aborto.


* Mariana Bruno Pinto é bacharel e mestranda em História pela Universidade Estadual do Paraná. Tem experiência na área de História, atuando principalmente nos seguintes temas: música, história do samba, malandragem e cotidiano, identidade. Atua como professora de História na rede pública de ensino.

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