A implantação do uniforme escolar na rede municipal de ensino de Itararé e as mazelas da “imprensa” local
por OSVALDO RODRIGUES JUNIOR
Foto: Imprensa Oficial de Itararé |
Começou na última quarta-feira, 25/02, a entrega do kit de uniformes escolares para os alunos da Rede Municipal de Itararé. O kit, composto por uma camiseta, uma calça e uma jaqueta, foi entregue pela prefeita municipal em 10 (dez) escolas. Nas demais, ficou a cargo dos gestores da escola a distribuição do uniforme. Foram investidos R$ 348.444,44 na uniformização das crianças. Tal melhoria foi possível pela alteração da Lei Municipal nº 2806, de 10 de julho de 2003. Esta lei dispunha sobre a padronização e o uso de uniformes escolares na Rede Municipal de Ensino. No artigo 4º, a lei determinava que apenas os alunos carentes, com famílias de renda per capita igual ou inferior a 65% do salário mínimo, teriam direito ao benefício. A lei municipal nº 3594, de 04 de junho de 2014, suprimiu o artigo 4º e permitiu à prefeitura uniformizar todos os 6.200 alunos da rede municipal de ensino.
A história dos uniformes escolares remete ao ano de 1890, quando as professoras da Escola Normal adotaram a vestimenta padronizada. Nas décadas de 20 e 30 o uso de uniformes passou a ser estimulado nas escolas mais tradicionais do país. Porém, foi com a democratização do ensino nas décadas de 40 e 50 que os uniformes se transformaram em costume nas escolas públicas e privadas no Brasil. Em 1960, nos debates realizados na 1ª Convenção em defesa da escola pública, que sistematizou as discussões para a Lei de Diretrizes e Bases nº 4.020, de 20 de dezembro de 1961, a preocupação com o uso do uniforme escolar já estava presente em uma emenda: “pela assistência aos alunos que dela necessitarem, sob forma de fornecimento gratuito, ou a preço reduzido, de material escolar, vestuário, alimentação e serviços médicos e dentários” (p. 88).
Apesar de ser um elemento extremamente sedimentado na cultura escolar, o uso do uniforme escolar suscita debates e possui argumentos favoráveis e contrários. O principal argumento contrário é o de que o uniforme tira a individualidade dos alunos em fase de escolarização. Apesar disso, educadores e até jovens defendem a eficácia e importância do uniforme escolar. Dentre os aspectos positivos para o uso, estão: praticidade, preservação da infância, inibição do consumismo, minimização da vaidade, economia, redução do risco de bullying, segurança na hora do brincar, imposição da disciplina, equilíbrio das diferenças sociais e desenvolvimento da responsabilidade.
Por todos esses motivos a iniciativa tem sido muito bem aceita por gestores, professores e, principalmente, pais de alunos. Apesar disso, o semanário “A minúscula” publicou uma “matéria” com o título “Prefeitura de Itararé distribui o famoso kit escolar gambá”. Com esta chamada sensacionalista e desrespeitosa, o responsável pela matéria afirmou que o kit será obrigatório para a permanência do aluno nas escolas e que isso não permitirá a higienização do mesmo, assim os alunos vão acabar exalando odores nas escolas municipais.
O primeiro erro da “notícia”, se é que podemos levar a sério uma informação com este teor, diz respeito ao desconhecimento da lei e, mesmo, do que foi determinado pela Prefeitura Municipal. No evento oficial realizado no Teatro Sylvio Machado, na sexta-feira, 20/02, a prefeita municipal Cristina Ghizzi afirmou que “o uso do uniforme é importante, mas o fato da criança não estar com ele não impedirá o acesso e permanência dos alunos a escola”. A fala da chefe do executivo vai na direção do inciso I do art. 206 da Constituição Federal de 1988, que indica que “O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola”. Desta forma, o veículo “desinforma” o cidadão itarareense, dando a entender que o executivo teria determinado uma prática inconstitucional, o que é uma mentira.
A segunda informação incorreta é a de que as malharias locais não estariam recebendo os pedidos de confecção dos uniformes. Em consulta aos comerciantes locais, tivemos a confirmação de que apenas uma das malharias está confeccionando 200 camisetas encomendadas pelos pais dos alunos.
O terceiro fato a ser destacado é o de que o uso contínuo do uniforme geraria a falta de higiene dos alunos. Esta informação também é inverossímil. Isso porque, no mesmo evento, a Secretária de Educação, Maria Aparecida Damásio Vieira, e a prefeita municipal indicaram que os gestores escolares têm total autonomia para isentar o uso durante um dia da semana para que o kit possa ser higienizado. Desta forma, o uso deve ser delimitado a 4 dias da semana.
Mais uma vez, parte da imprensa local cumpre o papel que vem sendo dela há 2 anos, o de desinformar e desconstruir sem construir absolutamente nada, como já indicou a colega Luisa Coquemala, em brilhante participação publicada no blog em janeiro.
Enquanto educador e cidadão itarareense, tenho plena consciência da necessidade da administração municipal trabalhar em prol da cidade e equalizar problemas ainda existentes, porém também de defender uma iniciativa que tem como objetivo trazer bem-estar aos alunos e às famílias dos alunos da rede municipal. Mais do que isso, fortalecer a rede municipal de ensino, que tem atingido ótimos resultados, se transformando em modelo na microrregião em que estamos situados.
Abraços,
Osvaldo.