por SANDRO CHAVES ROSSI
Quando um país tem um déficit público muito grande, geralmente a primeira medida tomada é o controle dos gastos públicos. Isso em economia se chama "austeridade". À primeira vista, a austeridade parece ser a melhor solução a ser tomada nessas situações, pelo menos na teoria. O grande problema da austeridade está onde os gastos são cortados: projetos de desenvolvimento e despesas sociais são frequentemente o alvo preferencial dos cortes de gastos, ou seja, quem paga o pato são as classes menos favorecidas.
A Europa passa por uma crise profunda que foi causada por diversos fatores como: a globalização dos mercados financeiros; facilidades nas condições de crédito no período 2002-2008, que encorajaram práticas com elevados riscos de crédito; a crise financeira global de 2007-2012; desequilíbrios no comércio internacional; o fim da bolha imobiliária; a recessão global de 2008-2012; políticas orçamentais resultando em déficits crônicos. Alguns países chegam a ter dívidas maiores que os seus respectivos PIBs e parece que a situação se agrava cada vez mais. A política de austeridade parece cada vez menos eficaz. A onda de desemprego assola os países com índices cada vez mais altos e os países continuam fazendo empréstimos bilionários e se afundando cada vez mais em dívidas. A população de alguns países está começando a entender que toda essa confusão está sendo causada simplesmente por causa de dívidas que não foi ela que fez, o que está desencadeando um processo interessante na Europa, principalmente na União Europeia.
O sentimento na Europa é de desconfiança, seja com o mercado ou com o Estado. Toda essa desconfiança causou diversas manifestações por todos os cantos do continente. Na Espanha as manifestações foram tão intensas que contribuíram para a fundação de um novo partido, o Podemos. Pablo Iglesias, líder do Podemos, é formado em Direito e em Ciências Políticas. Ele é professor universitário, secretário geral do partido e atual eurodeputado. Iglesias tem uma história longa dentro da política. Apesar dele ter se tornado político há pouco tempo, ele milita desde os 14 anos pela "Unión de Juventudes Comunistas de España (UJCE)" e fez sua carreira acadêmica toda em cima da esquerda política. A ascensão do Podemos foi extraordinária: o partido foi criado em 2014 e em três meses elegeu cinco deputados para o Parlamento Europeu. As últimas pesquisas mostram Pablo Iglesias com 44% das intenções de voto para as eleições de novembro, bem à frente do líder socialista do PSOE, Pedro Sánchez, com 32%, e do atual primeiro ministro, Mariano Rajoy, do PP, que recolhe 23% das preferências. O desemprego na Espanha já atinge 22,8% da população e não tem previsão de melhoras. Todas as fichas estão apostadas do líder do Podemos e uma vitória para o partido nas eleições de 2015 é quase certa.
Em uma situação bem mais delicada está a Grécia. Com uma taxa de desemprego que gira em torno de 30% e uma dívida pública de 177,2% do PIB, o país é o que está em situação mais delicada dentro da União Europeia. Desde 2010 a Grécia já teve cinco pacotes de austeridade. Com políticas duríssimas de corte de gastos e fazendo empréstimos bilionários, a situação da Grécia se agravou cada vez mais até chegar ao ponto de apostar todas as fichas no partido de esquerda chamado Syriza. O líder do Syriza é o engenheiro civil Alexis Tsipras, que foi eleito primeiro ministro no início de 2015 e traz uma ponta de esperança para os gregos. O Syriza, além de ter seu principal candidato eleito para primeiro ministro, conseguiu a maioria das cadeiras no Parlamento Grego, que, com 149 assentos de um total de 300, ficou a dois da maioria absoluta, e também conta agora com os 13 deputados do pequeno partido dos Gregos Independentes. O Syriza está sendo chamado de "esquerda radical" por causa da insegurança do mercado em relação ao pagamento da dívida. Os mais pessimistas acreditam em um calote grego, enquanto os mais otimistas vêem o novo primeiro ministro como alguém que vai realmente fazer política para os mais desamparados pelo Estado.
Alexis Tsipras fala muito em um "New Deal Europeu", porém as políticas econômicas aplicadas no New Deal de Roosevelt depois da desastrosa crise de 29 nos EUA vão na contramão da política de livre comércio da União Europeia, o que torna incerta a permanência da Grécia no bloco econômico e, consequentemente, na zona do Euro. O que o Syriza e o Podemos estão fazendo com a Europa é algo que promete ser, de uma certa maneira, revolucionário, visto que vários países se encontram em situação delicada dentro do bloco, talvez não tanto como a Espanha e a Grécia, mas a reformulação dos partidos de esquerda com a força popular está forçando uma revisão nas políticas econômicas da União Europeia. Por enquanto é só começo de uma era que promete grandes mudanças nas estruturas políticas vigentes não só na Europa, mas no mundo todo.
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