Parentes e amigos estão lamentando porque não puderam acompanhar. Mas como toda morte trágica, o falecimento de Itararé precisou de um sepultamento rápido. Primeiro porque a dor de ver um ente tão querido, embalado num caixão, em estágio rápido de decomposição, é inexprimível. Segundo porque o cemitério dos vivos só abre às segundas-feiras, portanto era preciso correr para não deixar o enterro para a próxima semana, 8 dias depois do óbito.
Ainda assim, em estado de choque e de certa forma incrédula, a multidão compareceu e acompanhou em silêncio absoluto o cortejo iniciado na Praça Matriz, com trajeto que se estendeu pela Rua XV, passou pela casa do falecido no calçadão (dizem que será leiloada) até o CAF, e de lá desceu rumo à São Pedro, sua rua preferida, com uma volta que seguiu rumo à Câmara Funerária Municipal - que não é lá uma pirâmide, mas tem muita gente morta dentro - e foi encerrada com uma emocionante sessão de aplausos entoados agora por um número multiplicado de ex-céticos, agora plenamente convencidos de que não tinha mais volta: Itararé realmente morreu.
Ao contrário do que costuma fazer João da Égua, os membros do cortejo não usaram o falecimento do já centenário sujeito para interesses político-partidários. Até então azuis, vermelhos ou brancos, enfim, trajaram o mais elegante preto em respeito a quem tanto fez por todos, e há muitos anos operava com a ajuda de aparelhos na UTI local - o que muitos entendem já como quase uma eutanásia.
Houve, no entanto, quem não compareceu ao trajeto ou ao velório e justificou a ausência. Como são muitos, podemos dividi-los em 3 grupos:
1) Medrosos: por algum motivo, imaginaram que a qualquer momento o cadáver poderia se levantar e quem sabe puxar seus pés no meio da noite. Alguns dizem que pouco antes da hora da morte, o médico falou em nome do defunto - com declaração e tudo - e detalhou como a ação à lá The Walking Dead aconteceria caso fossem vistos na marcha fúnebre.
2) Obesos: não estiveram porque engordaram tanto durante os anos de decadência física do morto que não tinham condições de assistir ao enterro. Aliás, ainda que tenham comido às custas dele - e o mínimo que poderiam fazer era dar um último adeus -, demonstraram asco diante dos pobres magricelas que acenderam algumas velinhas. Pelo Facebook, disseram que a presença dos entristecidos era falta de trabalho - o que de fato acontece de maneira radicalmente acentuada desde 2009. Disseram que era tudo fruto da manipulação do "professorzinho" e reprovaram feio em Matemática quando disseram que a maioria havia escolhido pelo óbito. Acusaram os secos de desrespeito à ordem natural das coisas, e que a morte não poderia ser lamentada, ainda que o cortejo tenha sido amparado legalmente e pelas autoridades competentes.
3) Intelectuais de Sofá: embora não tão robustos, viram aquela reunião espontânea e o nariz torceu, já que o comando daquilo não estava em livro algum. Afinal de contas como todo mundo é burro mesmo, menos eles, o coitado do Itararé morreu porque mereceu. Como na velha história do livre-arbítrio, argumentaram filosoficamente que o pobre do moribundo tinha escolhido partir desta para uma melhor. Evocaram frases de efeito de sites como pensador.net para desdenhar o choro coletivo natural e exigiram ação médica preventiva, ainda que não houvesse mais nada a fazer - afinal, sabem que não adianta apelar para a metafísica. Mas são tão superiores que se esqueceram de mencionar o que de fato fizeram eles quando o risco de morte era alto, mas ainda reversível. Entendem que sua maior arma revolucionária e incontestável é a anulação - arma potente, pois foi exatamente esse tiro, disparado 1.098 vezes, um dos responsáveis pela perfuração impiedosa do cadáver. Só protestam se for em francês.
Por sorte, todos eles têm a chance de acompanhar os registros de quem esteve e enxugou as lágrimas num ombro amigo:
Mais em: http://www.virtualguia.com.br/e/protesto-contra-a-reeleicao-de-cesar-perucio-leva-centenas-de-pessoas-a-camara-municipal-de-itarare
Que venha a ressurreição.
Abraços,
Murilo.
Mais uma vez parabéns, "professorzinho". Quem dera a educação desse país fosse repleta de "professorzinhos" como você. Garanto que não existiriam os obesos e os intelectuais de sofá.
ResponderExcluirJá sabe né, estou longe, mas pode contar comigo pra ressurreição.
Que tristeza isso que aconteceu com a nossa cidade! Eu realmente não acreditava que o povo pudesse reeleger o Chapéludo! Itararé sempre surpreendendo negativamente! Parabéns pela manifestação! LUTO!
ResponderExcluirA marcha foi um sucesso, em todos os âmbitos. Os interesseiros tremeram. Realmente, esperemos pela ressurreição, ou padeceremos por mais 4 anos nas mãos mafiosas de agentes políticos famosos pela ladroagem e roubalheiras.
ResponderExcluirParabéns , precisando é só contar comigo. Abraços
ResponderExcluir@dakdaniels